Investigadores do Porto lideram projeto para evitar desperdício de vacinas 364

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lideram um projeto europeu financiado em 3,6 milhões de euros que pretende, através de uma nova tecnologia de refrigeração, evitar o desperdício de vacinas, mantendo-as à temperatura recomendada.

“Todos os anos, perdem-se 1,5 milhões de vidas em todo o mundo devido ao acesso insuficiente à vacinação. Ao mesmo tempo, mais de 50% de toda a produção de vacinas é desperdiçada, em grande parte, devido ao controlo ineficaz da temperatura durante o armazenamento e transporte”, salienta esta quarta-feira, em comunicado, a FCUP, citado pela Lusa.

Este problema serviu “de inspiração” aos investigadores da FCUP que vão liderar um projeto europeu, intitulado Magccine, que pretende “salvar vacinas”.

Citado no comunicado, o investigador responsável pelo projeto, João Horta Belo, esclarece que atualmente o “regulamento restritivo” do transporte aéreo dos sistemas de refrigeração tradicionais “contribui para o desperdício de vacinas”.

“Os gases refrigerantes que estes sistemas usam, para além de serem poluentes, são também altamente explosivos e asfixiantes”, observa o investigador do Instituto de Física dos Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica da Universidade do Porto (IFIMUP).

Nesse sentido, os investigadores pretendem aplicar a refrigeração magnética, “mais sustentável e que não utiliza estes gases”, pretendendo “revolucionar a cadeia de frio das vacinas”.

No âmbito do projeto, que é financiado pelo programa Pathfinder, do Conselho Europeu de Inovação, será posta em prática uma descoberta da equipa do Porto que foi recentemente patenteada – “o efeito magnetocalórico rotativo” – que permite induzir uma mudança de temperatura num material magnetocalórico por rotação do campo magnético.

“Com esta tecnologia, a refrigeração magnética está mais próxima de ser uma realidade no mercado, uma vez que reduz a necessidade de utilização de matérias-primas de elevado custo associadas à intensidade do campo magnético – um dos maiores entraves à construção de dispositivos de refrigeração”, afirma.

Até 2028, os investigadores pretendem ter um protótipo operacional para a refrigeração de vacinas entre os dois e oito graus Célsius, intervalo de temperatura exigido por 90 a 95% das vacinas produzidas.

Segundo a FCUP, este equipamento “terá um consumo mais baixo e mais eficiente de energia”, prevendo-se também que integre fontes de energia renováveis.

“Desta forma, aumenta a segurança no transporte e armazenamento quando este ocorre em locais remotos com rede elétrica de difícil acesso ou indisponível”, acrescenta.

Liderado pela Faculdade de Ciências, o projeto conta ainda com investigadores da Universidade de Aveiro, Universidade de Sevilha (Espanha), Universidade de Ljubljana (Eslovénia) e do Institut Néel (França), mas também com parceiros industriais, como o MagREEsource e a Helium 3.

A investigação será ainda orientada por especialistas nacionais e internacionais, nomeadamente da Organização Mundial de Saúde (OMS), UNICEF, Cemafroid, IIR, APIRAC, Medgree e Addvolt.