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Investigadores estudam migração do parasita da leishmaniose pelo corpo humano

 


14 de março de 2018

Um grupo de investigadores do Porto está a estudar a migração no corpo humano do parasita responsável pela doença infecciosa leishmaniose, com o intuito de contribuir para o controlo desta patologia que afeta sobretudo pessoas de regiões tropicais.

O parasita Leishmania, responsável pela leishmaniose, é contraído pelos humanos e cães através da picada da mosca da areia, inseto que vive em climas tropicais e mediterrânicos, indicou à “Lusa” a investigadora Maria Inês Rocha, do grupo de Parasitologia Molecular do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto.

Em consequência do aquecimento global, este inseto tem encontrado habitat em novas regiões do planeta, contribuindo para a propagação geográfica da leishmaniose, indicou.

Além disso, a resistência destes parasitas aos medicamentos e inseticidas em uso, tornam a leishmaniose uma ameaça à saúde pública a uma escala mais global.
De acordo com a investigadora, apesar de partilharem o mesmo modo de transmissão, os parasitas podem migrar para outras zonas do organismo, levando a que sejam apresentados sintomas muito variados.

Em alguns casos, a Leishmania permanece no local da picada, onde origina uma pequena infeção na pele, enquanto noutros viaja para regiões mais afastadas do corpo, originando infeções cutâneas disseminadas (que acarretam um grande estigma social) ou em órgãos vitais (como o fígado e o baço).

Para migrar para longe do local da picada, a investigadora explicou que os parasitas «apanham boleia» dentro das células do sistema imune, que, «ao invés de eliminarem esses agentes infecciosos, acolhem-nos e servem-lhes de local privilegiado para viver».

Entre os vários fatores que determinam o local do organismo humano colonizado pela Leishmania, a investigadora referiu que «um dos mais importantes» é a espécie do parasita, sendo conhecidas atualmente mais de 20.

Considerando que a Leishmania «vive dentro de células do sistema imune, partimos do pressuposto que o destino final de uma determinada espécie no organismo humano (por outras palavras, o que define os sintomas da doença), depende da capacidade que esse parasita tem de controlar os movimentos da célula onde vive», esclareceu.

Ao perceberem a forma como os parasitas manipulam a migração das suas células-abrigo, os responsáveis pelo projeto esperam, a longo prazo, contribuir para controlar a doença.

Maria Inês Rocha contou que, apesar de as leishmanioses ameaçarem um bilião de pessoas à escola mundial, esta patologia faz parte de «uma vasta lista de doenças negligenciadas, elaborada pela Organização Mundial de Saúde».

«O termo negligenciadas deriva do facto de afetar maioritariamente países em vias de desenvolvimento, cujas populações, não conseguindo suportar os custos dos medicamentos, caem fora do radar das grandes farmacêuticas», notou.

A falta de investimento público em investigação nesta área não permite avanços científicos no que respeita ao diagnóstico e combate das leishmanioses, disse ainda.