20 de Setembro de 2016 O investigador Nuno Rodrigues dos Santos, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde do Porto (i3S), anunciou hoje que a sua equipa descobriu “o ponto fraco” da leucemia aguda de linfócitos T, abrindo caminho para uma nova terapêutica. As leucemias agudas de linfócitos T são doenças malignas que afetam maioritariamente crianças e adolescentes, mas também adultos. A maioria dos casos infantis são curados por quimioterapia, mas uma percentagem significativa destes e a maioria dos pacientes adultos não responde ao tratamento, sofre recidiva e, eventualmente, sucumbe à doença. Esta nova descoberta, realizada com a colaboração de equipas de investigação francesas e já publicada na revista científica internacional “Cancer Discovery”, permite que quando este tipo de leucemia não responde aos tratamentos convencionais «possa ser atingida por esta nova terapia, com anticorpo monoclonal, de forma complementar», como explicou à “Lusa” Nuno Rodrigues dos Santos. O trabalho dos investigadores incidiu sobre o recetor TCR (proteína existente na membrana de células), que se encontra em todos os linfócitos T (células) e é essencial para estes reconhecerem organismos invasores e desencadear uma resposta imunitária. A equipa de Nuno Rodrigues dos Santos verificou que «a estimulação do TCR através de um antigénio ou da inoculação de um anticorpo específico curava ou prolongava o tempo de vida dos murganhos (ratinhos) com leucemia». «As experiências nos ratinhos foram bastante convincentes, tanto em leucemias no ratinho como em leucemias humanas transplantadas no animal funcionaram de forma bastante eficaz. Em todos os casos há uma regressão e alguns ficaram curados», afirmou o investigador. Nuno Rodrigues dos Santos frisou que esta descoberta «poderá ser útil para certo tipo de leucemias, nomeadamente para grupos de doentes que não respondem a certas terapias convencionais, como a quimioterapia». Numa situação normal, quando o TCR é estimulado, o linfócito T reage multiplicando-se, iniciando a resposta imunológica. No entanto, verificaram os investigadores que «quando se estimula o TCR num linfócito leucémico a resposta é diferente, em vez de se multiplicarem, os linfócitos T estimulados morrem». Salientou, contudo, que antes de passar à fase de ensaios clínicos «devem ser feitos mais ensaios pré-clínicos, precisamente para demonstrar que este composto pode eliminar completamente este tipo de leucemias, em combinação com agentes quimioterápicos». Os investigadores começaram por estudar ratinhos de laboratório com leucemia, tendo assim descoberto que «a estimulação do TCR, seja através de um antigénio, seja inoculando um anticorpo monoclonal específico, curava ou prolongava» o tempo de vida dos animais. «Verificámos que a estimulação do TCR, através da administração de um anticorpo específico, levava à morte de células leucémicas humanas em experiências de cultura celular e à regressão da leucemia em ratinhos imunodeficientes transplantados com leucemias humanas», sustentou. Agora que o artigo foi publicado, o biólogo investigador pretende avançar para a fase seguinte, que visa «perceber como é que as células morrem, saber qual é o mecanismo exato», antevendo «o possível desenvolvimento de resistência». «A resistência é um dos fenómenos mais frequentes na resposta ao tratamento do cancro, queremos descobrir como é que as células podem escapar a isso e, desse modo, pensar já noutras alternativas para o tratamento da leucemia», disse. Para o investigador, «o interessante deste trabalho foi precisamente mostrar que o recetor TCR tinha uma função inesperada». «Os investigadores tinham indícios de que a estimulação deste recetor até favorecia a leucemia, ou seja, ela proliferava ainda mais. Mas não é o caso, nós demonstramos aqui que tem uma função precisamente antagónica. O aspeto mais inovador foi determinarmos que o TCR é o chamado “ponto fraco” ou o “Calcanhar de Aquiles” desta leucemia e que pode ser explorado como terapia». Nuno Rodrigues dos Santos é investigador principal no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desde Março de 2016. Em 2008 iniciou o seu laboratório no Centro de Investigação em Biomedicina (CBMR) na Universidade do Algarve, onde foram realizadas as experiências agora publicadas. |