Investigadores portugueses descobrem que células protetoras contribuem para cancro 617

Investigadores portugueses descobrem que células protetoras contribuem para cancro

11 de Agosto de 2014

Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa descobriu, numa experiência com ratinhos, que determinados glóbulos brancos, que protegem o organismo de infeções, também ajudam no desenvolvimento de cancro do ovário.

Bruno Silva-Santos, que lidera a equipa, explicou à agência “Lusa” que «a interação entre dois tipos de células do grupo dos glóbulos brancos» – os linfócitos T gama-delta e os macrófagos peritoneais – «promove o crescimento do cancro do ovário».

O investigador esclareceu que os linfócitos T gama-delta produzem uma molécula, a interleucina-17, que «vai recrutar» os macrófagos e «levá-los para o sítio do tumor», causando a formação de vasos sanguíneos que «vão fornecer alimentos ao tumor, que cresce mais depressa».

O coordenador do grupo de trabalho, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, adiantou que o que o tumor faz é «raptar o mecanismo protetor» dos linfócitos T gama-delta e dos macrófagos peritoneais contra infeções e «usá-lo a seu favor».

Os linfócitos T gama-delta e os macrófagos peritoneais são considerados «muito importantes» para a proteção natural do corpo contra microrganismos, em particular fungos e bactérias.

O que acontece, segundo Bruno Silva-Santos, é que a resposta do organismo «é aproveitada pelo tumor para favorecer o seu crescimento».

Por isso, assinalou, basta extrair do organismo os linfócitos T gama-delta ou a molécula interleucina-17 para travar a progressão do tumor.

«Se tivermos um doente com cancro, o que queremos é impedir o desenvolvimento do tumor. Vamos tirar estas células e esta molécula para impedir o desenvolvimento do tumor. Sabendo à partida que o doente vai ficar mais suscetível a uma infeção fúngica ou bacteriana, controlamos… com recurso a antibióticos», exemplificou.

Sobre os benefícios terapêuticos da descoberta, Bruno Silva-Santos referiu que já estão a ser testados em ensaios clínicos anticorpos para neutralizar a interleucina-17, responsável pelo desenvolvimento de doenças autoimunes. Os anticorpos, sustentou, podem ser úteis no tratamento – por imunoterapia – do cancro.

O próximo passo da sua equipa é estudar o mesmo mecanismo imunitário em células de humanos e verificar se é visível noutros tipos de cancro, sem ser o do ovário.

Bruno Silva-Santos invocou, a este propósito, um estudo recente de cientistas chineses que concluiu, em doentes, que os linfócitos T gama-delta estão associados a um mau prognóstico no cancro do cólon.

Os resultados da investigação do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa são publicados na revista “Proceedings of the Natural Academy of Sciences”.