Investigadores querem transformar medicamentos sólidos em líquidos para aumentar eficácia
12 de julho de 2017 Investigadores do Porto estão a estudar um método para transformar medicamentos sólidos em líquidos, de forma a aumentar a sua eficácia e resistência e torná-los mais fáceis de serem ingeridos ou administrados. «Um dos problemas dos fármacos, independentemente da patologia a que se destinam», é a «baixa eficácia» originada pela resistência desenvolvida pelos agentes patogénicos aos medicamentos, como acontece com os antibióticos, disse à “Lusa” a professora Paula Gomes, do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (DQB-FCUP), envolvida no projeto. Essa baixa eficácia deve-se, igualmente, à «reduzida percentagem do medicamento que chega realmente ao local de ação», acrescentou a também investigadora do LAQV-REQUIMTE, um laboratório da Universidade do Porto e da Universidade Nova de Lisboa. Existem ainda outros problemas que dificultam a sua administração de medicamentos injetáveis, por exemplo, que não se dissolvem completamente no veículo líquido, tendo que ser injetados sob a forma de suspensão (como as injeções de penicilina), método que «é muito doloroso». Para além disso, um número considerável de pacientes sente dificuldade em tomar pastilhas ou comprimidos grandes, o que, segundo a professora, se torna mais evidente em crianças ou no uso veterinário. De acordo com a investigadora, o método proposto no projeto “iLiquid” para contornar os problemas passa por converter os «medicamentos sólidos problemáticos» em sais líquidos, através de liquefação iónica, um processo que considera «rápido, simples e de baixo custo». Segundo a investigadora, os medicamentos líquidos não terão os mesmos problemas de administração que os sólidos e, caso tenham a formulação certa, poderão apresentar um cheiro e um sabor mais agradáveis. Por serem «ligeiramente diferentes dos medicamentos originais», poderão ainda ser melhor absorvidos e «iludir» os micróbios resistentes, tendo, assim, uma maior eficácia. Paula Gomes contou que a equipa de investigação já conseguiu resultados «muito positivos» com sais líquidos preparados a partir de ampicilina (pertencente ao grupo da penicilina e utilizada para tratar bactérias), que se revelaram «eficazes» contra bactérias resistentes a esse fármaco. Num estudo mais recente, prepararam sais líquidos com base em primaquina, um antiparasítico usado na prevenção e no tratamento da malária, que demonstraram resultados contra três fases do ciclo de vida do parasita, ao passo que o medicamento original é apenas ativo contra duas dessas fases. A equipa está também a trabalhar na aplicação deste conceito à criação de sais líquidos potencialmente úteis no combate a coinfeções «muito comuns em regiões de contexto socioeconómico desfavorecido», nomeadamente a malária, o HIV e a tuberculose. O “iLiquid” surgiu de uma parceria entre o DQB-FCUP e a Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (ESS-PPorto). Da equipa fazem ainda parte os investigadores Ricardo Ferraz, do LAQV-REQUIMTE e da ESS-PPorto, Cristina Soares, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e da ESS-PPorto, e Cátia Teixeira, do LAQV-REQUIMTE e do DQB-FCUP. |