Investigadores revelam como vacina BCG destrói células do cancro da bexiga 543

Uma equipa de cientistas da Fundação Champalimaud descobriu como a vacina contra a tuberculose (BCG), usada no tratamento do cancro da bexiga, destrói as células tumorais, baseando-se numa experiência feita com peixes-zebra.

Utilizando “Avatares” de peixe-zebra, um modelo animal desenvolvido no Laboratório de Desenvolvimento do Cancro e Evasão Imunitária Inata da Fundação Champalimaud (FC), liderado por Rita Fior, Mayra Martínez-López – antiga aluna de doutoramento do laboratório, hoje na Universidad de las Américas em Quito, Equador – e colegas estudaram os passos iniciais da ação da vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG) nas células do cancro da bexiga.

Os resultados, publicados hoje na revista Disease Models and Mechanisms, mostram que os macrófagos induzem, literalmente, as células cancerosas ao suicídio e, em seguida, devoram rapidamente essas células mortas.

Como funcionam os avatares

A ideia por detrás dos avatares de peixe-zebra (zAvatars), que ainda constituem um modelo experimental, mas muito promissor, é bastante simples, segundo explicado num comunicado da FC: “retirar células tumorais de um doente com cancro e injetá-las em embriões de peixe-zebra. Os tumores crescem então no interior dos embriões, que assim se tornam de facto avatares desse doente oncológico. As várias opções de tratamento disponíveis para esse doente podem então ser testadas nos zAvatars  e, numa questão de dias, em vez das várias semanas, ou mesmo meses, que são necessários com os testes tradicionais em ratinhos, será possível determinar o melhor tratamento para cada doente”.

Imunoterapia com BCG

“A imunoterapia com BCG ainda é utilizada de forma bastante empírica”, diz Martínez-López, em comunicado, acrescentando que, “no entanto, como funciona em muitos casos, tornou-se um tratamento de referência. Surpreendentemente, é uma imunoterapia muito eficaz, mesmo quando comparada com tantas imunoterapias sofisticadas que estão a ser desenvolvidas”.

O tratamento consiste em instilar a vacina BCG diretamente na bexiga. Quando funciona, a taxa de sobrevivência a 15 anos para os doentes com cancro da bexiga dito ‘não músculo-invasivo’ (em fase inicial) é de 60% a 70%. No entanto, em 30% a 50% dos casos, os tumores da bexiga não respondem ao tratamento com BCG. Nestes casos, a bexiga tem de ser totalmente removida.

Deste modo, a ideia da equipa da FC era que as células imunitárias, e em particular os macrófagos residentes na bexiga, estivessem envolvidas, tendo conseguido determinar o que acontece logo após a injeção de BCG em Avatares de peixe-zebra. Para o efeito, utilizou-se a microscopia light-sheet (“folha de luz”) e confocal, o que permitiu ver os macrófagos a interagir com as células tumorais, com uma resolução de célula única e em tempo real.

Os investigadores descobriram que os macrófagos são fortemente recrutados para o local do tumor após a injeção de BCG, matando diretamente as células do cancro da bexiga através de um processo de suicídio celular (apoptose) dependente de uma substância chamada fator de necrose tumoral (TNF) segregada pelos macrófagos, que atua como uma potente molécula sinalizadora do sistema imunitário.

Além disso, constataram que, quando os macrófagos eram retirados do zAvatar, os efeitos anti tumorais da vacina BCG eram totalmente bloqueados, demonstrando assim que os macrófagos são de facto cruciais para a resposta anti-tumoral inicial provocada pela vacina.