O Instituto Universitário de Lisboa (Iscte) lidera um consórcio de 26 entidades que vai criar um sistema europeu de partilha de dados de saúde entre os vários Estados-membros e os setores público, privado e social de cada país.
“Essa nova capacidade de diferentes sistemas informáticos trocarem dados sem esforço para os profissionais clínicos que os utilizam irá permitir que qualquer cidadão – seja trabalhador imigrante, estudante em Erasmus ou turista – possa ser atendido em qualquer instituição de saúde, pública ou privada, na sua terra ou numa cidade no outro lado da Europa, com acesso aos mesmos dados do seu historial clínico”, salientou esta quarta-feira à Lusa Henrique Martins, professor e investigador do Iscte.
Segundo o coordenador do projeto, o XpanDH, orçado em dois milhões de euros, reúne os “mais conceituados especialistas europeus em dados de saúde” que vão criar um “ambiente de interoperabilidade sustentável e escalável em toda a União Europeia” para permitir a partilha de dados de saúde de forma segura e clinicamente útil.
Este novo sistema de partilha de dados, que será criado nos próximos dois anos, foi adjudicado pela Comissão Europeia ao consórcio liderado pelo Iscte – Conhecimento e Inovação, que vai reunir esta quarta-feira, em Lisboa, pela primeira vez de forma presencial.
Na prática, os 26 parceiros europeus envolvidos no projeto vão propor a Bruxelas um novo “ecossistema de ligação” entre os sistemas informáticos das instituições de saúde europeias, como hospitais, centros de saúde, laboratórios e registos nacionais, adiantou a instituição universitária à agência Lusa.
De acordo com o Iscte, o “XpanDH – Expanding Digital Health through a pan-European EHRxF-based Ecosystem” ajudará a criar condições para que cidadãos e as organizações de saúde possam partilhar melhor dados de saúde, não só entre os países da União Europeia, mas também entre os sistemas nacionais de saúde e os diferentes operadores privados e do setor social” de cada país. A reunião desta quarta e quinta-feira vai contar com a participação de instituições de investigação, empresas, organizações de saúde e associações intergovernamentais e de vários setores.
“A chegada do projeto XpanDH surge num momento único para a União Europeia, uma vez que os Estados-membros já estabeleceram bases comuns de trabalho para uma melhor interoperabilidade na área da saúde digital”, salientou ainda Henrique Martins, apontando o exemplo do certificado digital utilizado na Europa durante a pandemia da covid-19.
Em maio de 2022, a Comissão Europeia propôs a criação, até 2025, de uma base de dados para acesso ao historial médico em toda a União Europeia (UE), facilitando, por exemplo, o acompanhamento e tratamento de doentes portugueses fora do país.
Segundo dados da comissão, dos 14 mil milhões de euros gastos anualmente em exames médicos, cerca de 10% são gastos em procedimentos que são realizados desnecessariamente, muitas vezes repetindo o que já foi feito em outros locais. A estimativa é que, em 10 anos, seja possível poupar 5,5 mil milhões de euros em melhor acesso e intercâmbio de dados de saúde.
O XpanDH é um projeto que integra o Horizon Europe, programa para o financiamento da investigação e da inovação na União Europeia.