Ao longo dos últimos anos, “os farmacêuticos comunitários têm contribuído de forma decisiva para melhorar o acesso e a proximidade aos cuidados de saúde, de forma complementar e muitas vezes integrada com os serviços públicos de saúde”, afirmou o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Helder Mota Filipe, na abertura das IV Jornadas de Farmácia Comunitária, que decorreram este sábado na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
No caso da administração de vacinas, “é praticamente unânime a importância do contributo determinante dos farmacêuticos para a cobertura nacional durante a campanha sazonal da gripe e covid-19, que termina oficialmente no final deste mês de abril”. Dos quase 4,5 milhões de doses de vacinas, “cerca de 70% foram administradas nas farmácias”. Quem teima em dizer que a campanha foi um insucesso “não pode senão estar cego”, provavelmente por “razões ideológicas”.
Em relação ao novo serviço de dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade, o bastonário entende que “chegámos a um ponto de não retorno”, Não obstante, ainda falta a publicação dos medicamentos passíveis deste serviço, com a Ordem especialmente atenta à possibilidade de se aproveitar essa lista “para reduzir o potencial do serviço, por comportamentos mais conservadores”.
Sobre o plano de emergência anunciado pelo novo governo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e uma série de novas medidas para a área da Saúde, “já manifestámos a absoluta disponibilidade para uma reflexão e concretização de muita das medidas propostas”, referiu Helder Mota Filipe, recordando a proposta, inscrita no Orçamento de Estado para este ano, da instituição do serviço de intervenção farmacêutica em situações clínicas ligeiras. “Acreditamos que o novo governo vai prosseguir este caminho, pois não pode deixar de reconhecer nos farmacêuticos comunitários uma força de trabalho qualificada e homogeneamente distribuída pelo país, que pode contribuir para o alívio da pressão nos serviços públicos de saúde, resolvendo situações clínicas ligeiras dos seus utentes, bem caracterizadas e com intervenções devidamente protocoladas”.
Noutro domínio, o bastonário anunciou que a OF está a desenvolver um trabalho conjunto com a Direção Executiva do SNS e outras entidades, nomeadamente a ANF e a AFP, para “integrar os farmacêuticos comunitários em programas e campanhas de rastreio e referenciação em várias patologias, como é o caso do cancro do colón e reto”.
Nesta “mudança de paradigma para cuidados centrados na pessoa”, além da intervenção farmacêutica em situações clínicas ligeiras, a presidente do Colégio de Especialidade de Farmácia Comunitária lançou o desafio para novos serviços “onde o utente é o foco central”: o farmacêutico de família, a saúde mental e referenciação social, o apoio à primeira dispensa, a consulta farmacêutica e, por último, a intervenção do farmacêutico em geriatria.
Na opinião de Carolina Mosca, estes serviços permitirão ao farmacêutico comunitário “estreitar os seus laços com a comunidade” e “desenvolver-se profissionalmente, adquirindo novas competências e formas de integração com o sistema de saúde”.
O programa das IV Jornadas teve, assim, o desígnio de “aumentar a capacitação do farmacêutico comunitário” nestes domínios, com sessões sobre “o acompanhamento farmacêutico ao doente oncológico”, “a fragilidade do idoso e intervenção farmacêutica na prática clínica” e “revisão da medicação na transição de cuidados”, entre outras.