Conhecer é amar? 579

Quando se fala com um gestor, é normal verificar que a notoriedade das suas marcas é uma das maiores preocupações. O que é uma inquietação legítima, já que a notoriedade é um elemento fulcral para que alguém adote uma marca. Tal como dizia Santo Agostinho, «ninguém ama aquilo que não conhece».

Aliás, basta verificar que grande parte das ideias preconcebidas, em que assentam por exemplo o racismo e a xenofobia, resultam normalmente da falta de conhecimento acerca do Outro.

Em relação à notoriedade convém, no entanto, ressalvar dois aspetos.

O primeiro é de que o simples lembrar ou reconhecer não é suficiente; é preciso que o consumidor seja capaz de identificar a marca dentro da sua categoria e de forma suficientemente detalhada para possibilitar a compra. Quer isto dizer que um consumidor que procure uma marca de bolachas nas conservas, dificilmente a irá encontrar.

O segundo é não esquecer que, sendo importante, a notoriedade, por si só, vale de pouco no estabelecimento de uma relação com o consumidor. Basta pensarmos que há muitas coisas na vida que conhecemos e das quais não nos esquecemos, mas isso não quer dizer que gostemos delas e as desejemos. Com as marcas não é diferente; podemos lembrar-nos muito bem de determinadas marcas, mas é preciso que tenhamos uma atitude favorável face a elas, para que a relação seja possível.

Afinal, é quase tudo uma questão de senso: precisamos de conhecer para amar, mas não é por conhecermos que amamos.

João Barros,
Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa