Com a dificuldade demonstrada pelo SNS para dar resposta a todas as necessidades dos cidadãos, «estamos num momento crucial para a instituição formal de novos serviços farmacêuticos nas farmácias comunitárias, com demonstrações por parte da tutela da intenção de os concretizar», afirmou o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, no arranque das Jornadas de Farmácia Comunitária 2023, que decorreram no passado fim-de-semana no Europarque, em Santa Maria da Feira.
Sobre as duas medidas inscritas no Orçamento de Estado para 2023, o bastonário assinalou que após a discussão pública da norma profissional sobre a dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade, o próximo passo consiste na análise dos mais de 250 comentários recebidos pelo grupo de trabalho designado para o desenvolvimento desta norma (constituído por farmacêuticos dos Colégios de Especialidade de Farmácia Comunitária e Hospitalar).
Quanto à renovação da prescrição para os doentes crónicos, Helder Mota Filipe anunciou que «está em curso um trabalho conjunto, coordenado pela Direção Executiva do SNS e que, para além da OF, inclui diversas estruturas do Ministério da Saúde e as associações de farmácias, para que este serviço farmacêutico seja uma realidade até ao final do ano».
As novas regras para a prescrição, «que incluem o alargamento do prazo de validade, não garante por si só a continuidade das terapêuticas e o acompanhamento que os doentes necessitam», explicou o bastonário. «É imprescindível o seguimento regular e consistente de todos os doentes, de forma a assegurar a estabilidade das situações clínicas e a identificar possíveis necessidades para alterações da terapêutica, além de garantir o uso racional do medicamento».
Os farmacêuticos «podem e devem aprofundar os serviços clínicos a prestar às populações, que possam acrescentar valor e ganhos em saúde, isto é, mantendo a qualidade da prestação, e serem mais custo-efetivos», reforçou Helder Mota Filipe, recordando que a Ordem tem novas competências farmacêuticas em desenvolvimento: Oncologia e Investigação Clínica.
Na sua perspetiva, o programa das Jornadas, com o tema “A Farmácia Comunitária no Sistema de Saúde”, reflete os tempos e desafios atuais, «mais especiais» ainda, pela velocidade da inovação terapêutica.
A terceira edição das Jornadas de Farmácia Comunitária foi precedida por três webinares sobre “Gestão da nutrição clínica na Farmácia”, “Terapia personalizada” e “Como desenhar um estudo em farmácia comunitária”, tendo concluído, na tarde de domingo, com uma sessão de formação intensiva sobre “Câmaras expansoras: dos fundamentos à intervenção do farmacêutico”.
Do debate ocorrido nas sessões das terceiras Jornadas de Farmácia Comunitária, que juntou no Europarque cerca de 170 farmacêuticos numa reflexão sobre «serviços farmacêuticos para a comunidade, medicamentos de dispensa em proximidade, reconciliação/revisão da medicação, recolha de dados e geração de evidência», entre outros, a presidente do Colégio de Especialidade de Farmácia Comunitária assinalou a necessidade de «alterar o paradigma da Farmácia Comunitária, onde é premente a aposta nos serviços/cuidados farmacêuticos».
As competências farmacêuticas «são uma resposta necessária para garantir a qualidade e segurança dos serviços prestados pelos farmacêuticos, em particular nas atividades assistenciais e de saúde». Na perspetiva de Carolina Mosca, são também «uma oportunidade para os farmacêuticos se diferenciarem em áreas específicas que urge trabalhar».
Recordando que a OF está a trabalhar nas competências de Oncologia e Investigação Clínica, a responsável do Colégio aconselhou os diretores técnicos das farmácias a «aproveitar esta nova realidade para diferenciar e especializar o seu quadro de farmacêuticos. A nossa intervenção deve ser diferenciadora. Os serviços farmacêuticos são uma oportunidade para a intervenção farmacêutica junto dos nossos utentes, com ganhos significativos na sua saúde».
Sobre a necessidade de aperfeiçoar os registos da atividade farmacêutica, Carolina Mosca lembrou a importância de gerar evidências em Saúde. «Façamos todos que considerem as farmácias comunitárias como unidades de saúde dentro do sistema de Saúde. Temos de tomar a iniciativa, estabelecer contacto com outros profissionais das unidades de saúde próximas de nós, dar a conhecer os serviços que já praticamos» e que muitos desconhecem. «Vamos mudar o paradigma da Farmácia; vamos descobrir um mundo novo», incentivou.