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Justiça do Bangladesh condena responsáveis por xarope que matou crianças

17 de Agosto de 2015

Um tribunal no Bangladesh condenou hoje a 10 anos de prisão seis responsáveis de uma empresa farmacêutica que desenvolveu um xarope de paracetamol tóxico que matou, segundo fontes médicas, centenas de crianças na década de 1990.

 

Entre os acusados está Shahjahan Sarker, o diretor da então farmacêutica BCI Bangladesh, empresa que foi entretanto encerrada, e outros cinco diretores e gerentes da companhia.

 

«Receberam a punição por terem adulterado um xarope de paracetamol usado por bebés», afirmou o procurador do Ministério Público, Nadim Miah, em declarações à agência francesa AFP, sobre a deliberação do tribunal de Daca.

 

Apenas Shahjahan Sarker será enviado para a prisão, uma vez que os restantes réus do processo estão em fuga desde 2009, altura em que foram formalmente acusados de adulterar o medicamento com dietilenoglicol (Diethylene Glycol), frequentemente usado na indústria de artigos de pele.

 

O solvente tóxico foi usado como uma alternativa ao propilenoglicol (Propylene Glycol), um composto químico seguro e 10 vezes mais caro.

 

Após a administração do xarope, as crianças começavam a manifestar sintomas de insuficiência renal.

 

Os primeiros casos de utilização deste produto tóxico foram divulgados na década de 1990. Na altura, a comunidade médica local denunciou a morte de centenas de crianças, forçando a uma maior fiscalização governamental da Indústria Farmacêutica.

 

Mas, em 2009, foram registadas novas mortes infantis e o componente tóxico foi novamente detetado num xarope de paracetamol.

 

Cinco empresas farmacêuticas foram inicialmente implicadas neste escândalo.

 

Três funcionários de outra farmacêutica, Adflame Pharmaceutical, foram condenados a penas de prisão em 2014. O processo judicial relacionado com os responsáveis da BCI Bangladesh arrastou-se durante vários anos.

 

Segundo o nefrologista pediatra local, Mohammed Hanif, a adulteração de medicamentos infantis com este componente tóxico poderá ter começado na década de 1980.

 

Em declarações à “AFP”, citadas pela “Lusa”, o nefrologista afirmou que os hospitais no Bangladesh começaram a receber casos de crianças com insuficiência renal em finais de 1982. Mas, de acordo com o especialista, foram precisos 10 anos para estabelecer a ligação entre as mortes destas crianças e a utilização indevida de dietilenoglicol.

 

Num artigo publicado no “British Medical Journal”, Mohammed Hanif chegou a denunciar a possibilidade do componente tóxico ter matado vários milhares de crianças no Bangladesh.