Lares: o parente esquecido dos prestadores de cuidados de saúde? 185

As Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPIs), ou como mais conhecidas são, lares, são estruturas integradas, autorizadas para o desenvolvimento de atividades de apoio social e para a prestação de cuidados de suporte às pessoas idosas (com 65 ou mais anos). Exclusivamente integradas nas competências do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, são desígnios das ERPIs, entre outros, proporcionar cuidados permanentes e adequados, estimular o envelhecimento ativo e potenciar a inclusão social dos seus residentes1.

Em Portugal, a esperança média de vida à nascença é de 81,7 anos (na União Europeia é de 81,5 anos), ao passo que a esperança de anos com qualidade de vida a partir dos 65 anos é de apenas 7,9 anos (na União Europeia é de 9,1 anos)2. O envelhecimento da população é uma realidade que vai obrigar as sociedades modernas a repensar os cuidados disponíveis  para suprir as necessidades da população, e os sistemas de saúde já começaram a sentir essa exigência. Para fazer face às comorbilidades do envelhecimento, a polimedicação é uma realidade. A toma de um número elevado de medicamentos requer um maior cuidado na sua utilização, uma vez que a polimedicação está associada a uma maior frequência de Problemas Relacionados com a Medicação, isto é situações que causam ou podem causar o aparecimento de um resultado negativo associado ao uso de medicamentos, tais como: reações adversas, interações medicamentosas e maior consumo de cuidados de saúde (ex. hospitalizações)3.

A forma como olhamos para o envelhecimento está a mudar. Tal premissa pode ser justificada pelo recém criado – e ainda sem efeitos físicos – Programa Nacional do Envelhecimento Ativo – e pelos vários serviços do setor privado e social que vão surgindo. As próprias ERPIs, que legislativamente têm os seus quadros de pessoal definidos, compreendem que existem profissionais que poderão completar a sua missão de prestação de cuidados, como os nutricionistas, os terapeutas ocupacionais, os psicólogos e os fisioterapeutas. Não estaremos portanto a falar de instituições que prestam cuidados de saúde?

A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados é o exemplo da simbiose entre cuidados sociais e de saúde que, apesar das suas falhas, contempla serviços farmacêuticos nos seus desígnios de atuação, garantido que a terapêutica dos seus utentes é certa, segura e eficaz. Sabendo, portanto, que a população idosa é maioritariamente polimedicada e que as ERPIs são a resposta de acolhimento temporário ou permanente, 24h/dia, para as pessoas idosas que deste serviço necessitam, cumpre, com o espírito crítico que a profissão exige, indagar sobre o papel necessário do farmacêutico na gestão dos medicamentos nas ERPIs, pela segurança dos seus residentes e pelo cumprimento de um Plano Nacional do Envelhecimento Ativo onde todos os profissionais, de todos os setores, são chamados a intervir.

1Governo Português. Portaria n.º 349/2023, 13 de novembro
2https://ec.europa.eu/eurostat/en/
3Lee SWH, Mak VSL, Tang YW. Pharmacist services in nursing homes: A systematic review and meta-analysis. Br J Clin Pharmacol 2019; 85: 2668–2688.

 

Ana Rita Rodrigues

Vogal da Direção da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF)