Legionella: 278 casos e cinco mortes, último balanço da DGS 609

Legionella: 278 casos e cinco mortes, último balanço da DGS

12 de novembro de 2014

A Direção-geral da Saúde (DGS) revelou ontem que foram identificados até agora 278 doentes infetados com legionella, mantendo-se as cinco vítimas mortais reportadas na segunda-feira.

Num comunicado, citado pela “Lusa”, a DGS indica que, com ligação ao surto de Vila Franca de Xira, foram reportados 45 novos casos desde segunda-feira.

«Os inquéritos epidemiológicos continuam a decorrer, mas toda a evidência sugere que o surto está circunscrito às freguesias de Póvoa de Santa Iria, Forte da Casa e Vialonga, em Vila Franca de Xira, zonas às quais se ligam todos os casos identificados. Não há indícios de extensão do risco de doença para lá da zona já delimitada», indica a nota da autoridade de saúde.

As investigações para determinar a fonte de contaminação continuam a decorrer «em estreita colaboração entre os ministérios da Saúde e do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia», com a participação de outros organismos, como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Sobre os casos reportados no estrangeiro, o comunicado refere que «tudo indica» que estejam ligados a este surto.

Ontem, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, confirmou à agência “Lusa” a existência de um caso em Luanda (Angola) e outro em Lima (Perú), ambos em pessoas que estiveram no concelho de Vila Franca de Xira.

A DGS reforça que não há risco de transmissão da bactéria entre pessoas.

A legionella, que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, foi detetada na sexta-feira, no concelho de Vila Franca de Xira, tendo provocado até agora a morte de cinco pessoas.

Ministro não exclui «outras alternativas» quanto à origem do surto

O ministro da Saúde admitiu ontem que a empresa Adubos de Portugal está a ser alvo de uma investigação mais profunda, quanto à origem do surto de legionella, mas não descartou outras hipóteses.

Paulo Macedo lembrou ainda que já houve vários surtos em que nunca se identificou a fonte, avançou a “Lusa”.

Falando aos jornalistas à margem da inauguração de um novo edifício de ambulatório do Hospital Lusíadas Lisboa, Paulo Macedo lembrou que logo no domingo houve um conjunto de testes concluídos preliminarmente e um conjunto de conclusões que levaram as autoridades a pedir o encerramento das várias torres de refrigeração para limpeza e para nova mensuração de valores.

Descartada logo de início, após testes, a possibilidade de o foco estar na água fornecida pela EPAL, foi feita mensuração às extremidades da rede, tendo-se detetado «várias pistas epidemiológicas, das torres de refrigeração e de alguns pontos relativamente a pontos de água que pudessem fazer aerossóis».

«Neste momento, nas 24 horas seguintes, o que se fizeram foi testes adicionais e desses surgiram algumas confirmações», que apontaram, em especial, para «uma das áreas que mereceu uma análise de maior rigor imediata que está a decorrer no terreno», afirmou o ministro, quando questionado sobre a empresa Adubos de Portugal.

Paulo Macedo, contudo, não se quis alongar mais, afirmando não querer «causar qualquer ruído», uma vez que o ministro do Ambiente «já disse o que tinha a dizer».

Ontem, o ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e da Energia, Jorge Moreira da Silva, anunciou uma ação inspetiva extraordinária à empresa Adubos de Portugal, em Vila Franca de Xira, para averiguar um eventual crime ambiental.

Paulo Macedo sublinhou contudo que não estão descartadas outras hipóteses.

«Temos dados adicionais que nos levaram a fazer uma investigação mais profunda, mas as outras alternativas não estão descartadas».

O ministro especificou que estão ser feitos diferentes testes em cultura: domingo foram feitos testes rápidos que dão indicação de presença ou não de legionella, mas não a quantidade nem o tipo.

Para se saber a tipologia tem de se fazer teste em cultura de cinco a 10 dias e depois cruzar com o tipo de legionella nos pacientes.

«Só depois do cruzamento podemos ter a certeza que é esta a fonte. Estamos a trabalhar na identificação da fonte. Recordo que há vários surtos em que nunca se identificou a fonte», sublinhou.

O ministro salientou ainda que, independentemente da investigação em curso, o mais importante foi parar com as várias prováveis fontes de emissão.

Quanto ao número de infetados, Paulo Macedo admitiu que podem surgir ainda mais casos, mas frisou que a tendência continuará a ser de «desaceleramento».

«Do primeiro dia para o segundo tivemos um aumento de casos de 170%, do dia seguinte tivemos um aumentos de casos de cerca de 100%, ontem tivemos um aumento de casos de cerca 30% e hoje [terça-feira] estamos com um aumento de casos de cerca de 19%», disse.

Sobre a oferta de ajuda feita a Portugal pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o ministro admitiu aceitar.

«Quer o Centro de Controle de Doenças Europeu quer a OMS pediram para se juntar a nós para observar e disponibilizaram o seu apoio, portanto são bem-vindos», afirmou.

Passos rejeita negligência do Estado e promete apuramento de responsabilidades

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou ontem que o surto de legionella «não ocorreu por negligência do Estado», deixando a garantia de que as responsabilidades sobre a origem do problema serão apuradas.

Pedro Passos Coelho falava aos jornalistas após a inauguração do Complexo Social do Centro Social de S. Martinho de Aldoar, no Porto.

Quando questionado sobre o surto de legionella, o chefe do Governo respondeu que está «a entrar em declínio», sublinhando a necessidade de continuar a prestar «todo o auxílio a todas as pessoas que precisam dessa assistência».

«A responsabilidade sobre a origem do problema será apurada e será transmitida com transparência», afiançou, manifestando a esperança de que «este caso possa funcionar de forma profilática», já que houve muitas pessoas que foram atingidas por um problema de saúde pública.

Sobre a responsabilidade política do executivo, por ter feito uma alteração á lei relativa às inspeções em 2013, Passos Coelho explicou que essa mudança legal «foi feita justamente para reforçar a capacidade de inspeção e de prevenção destes casos», deixando claro que «esta situação não ocorreu por negligência do Estado».

Segundo o jornal “Público”, no ano passado, o Governo alterou legislação de 2006 que obrigava lares, hospitais, centros comerciais e outros edifícios a realizarem auditorias periódicas à qualidade do ar, eliminando essa obrigatoriedade. Desde então, o cumprimento das normas nesta matéria é verificado pela Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território.

Passos Coelho disse ainda que os ministros da Saúde e do Ambiente «têm feito aquilo que, em termos de comunicação, é essencial, que é dar ao país a informação o mais fiel possível» sobre o que se apurou relativamente à origem do surto e «passar uma mensagem de tranquilidade às pessoas».

«Sabemos que existe uma fonte mais proeminente que fez a propagação desta bactéria. Não está excluído que possam existir ainda outras fontes, embora que não tenham a mesma dimensão e a mesma importância», acrescentou.

Passos Coelho esclareceu que averiguações, inquéritos e responsabilização que possa eventualmente existir na origem deste problema terão de aguardar «o tempo que é necessário».

Bruxelas segue situação em Portugal e já pediu avaliação de risco

A Comissão Europeia está a acompanhar de perto o surto de legionella em Portugal, o maior de sempre registado no país, e já pediu ao Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças uma avaliação rápida de risco.

O porta-voz da Comissão Europeia para a Saúde, Enrico Brivio, disse à “Lusa” que, independentemente de um surto da doença dos legionários não ser propriamente encarado como uma ameaça transfronteiriça à saúde, já que é por regra um evento local sem transmissão entre os seres humanos, Bruxelas está a monitorizar de perto a situação, consciente de que se trata «do maior surto de sempre de legionella em Portugal».

«A Comissão está a monitorizar de perto os acontecimentos com o apoio da ECDC (a sigla em inglês do centro europeu de controlo e prevenção de doenças) e da ELDSNet (a rede europeia de vigilância da doença dos legionários), que está a monitorizar ativamente casos de legionella relacionados com viagens, em contacto com o respetivo ponto de contacto da ELDSNet em Portugal», referiu, acrescentando que a Comissão já pediu à ECDC uma avaliação rápida de risco, que deverá ser entregue nos próximos dias.

Por outro lado, acrescentou, as autoridades de saúde pública dos Estados-membros recebem regularmente informação atualizada sobre os desenvolvimentos da situação através do sistema de resposta e alerta rápido da União Europeia.

O executivo comunitário, apontou, tem conhecimento de que o surto de legionella está a ser lidado pelas autoridades de saúde de Portugal «como uma grande emergência de saúde pública», envolvendo especialistas das mais diversas áreas, que estão «a assegurar-se de que as medidas necessárias estão a ser implementadas para controlar o surto».