Legionella: Surto de VFX já é o terceiro com mais casos do mundo 13 de novembro de 2014 O surto de legionella agora registado em Vila Franca de Xira tornou-se o terceiro com mais casos em todo o mundo, segundo mostram os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa). Segundo o último balanço da Direção-Geral da Saúde (DGS), divulgado pela “Lusa”, há 302 pessoas infetadas com legionella, todas com relação ao surto de Vila Franca de Xira. Na lista dos surtos com mais casos da doença do legionário disponível no site do ECDC surge, em primeiro lugar, o caso de Barrow, no Reino Unido, que atingiu 494 pessoas em 2002, tendo como foco um sistema de ar condicionado. Segue-se um surto ocorrido em Múrcia, Espanha, em 2001, que registou 449 casos, com a fonte de contaminação a ser uma torre de refrigeração de um hospital. A partir de agora, o surto na zona de Vila Franca de Xira, ainda com origem desconhecida, passa a estar no terceiro lugar da lista dos surtos de legionella com mais pessoas doentes. Até aqui, estava em terceiro lugar um surto em Miyazaki, no Japão, que em 2002 infetou 295 pessoas num balneário público. DGS: 302 pessoas infetadas e número de mortos pode subir para nove O surto de legionella com origem no concelho de Vila Franca de Xira infetou, até ontem, 302 pessoas, 24 novos casos nas últimas 24 horas, e o número de mortos pode subir para nove, segundo dados oficiais. Num comunicado com a situação atualizada até às 15:00 de ontem, a Direção-Geral da Saúde (DGS) fala também em nove mortes, explicando que cinco deles morreram de facto devido à legionella e que os outros quatro permanecem em investigação. A confirmarem-se os quatro casos sobe para nove o número de mortos. Ao início da tarde de ontem, fonte oficial tinha dito à “Lusa” que sete pessoas já tinham morrido devido ao surto de legionella, número confirmado posteriormente pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. De acordo com o balanço da DGS, dos 302 casos 291 são na Região de Lisboa e Vale do Tejo, três na Região Norte, quatro na Região Centro, dois na Região do Algarve e dois no estrangeiro (Luanda, Angola, e Lima, Peru). Diz o comunicado que os inquéritos epidemiológicos continuam a decorrer, e que «toda a evidência sugere que o surto está circunscrito às freguesias de Póvoa de Santa Iria, Forte da Casa e Vialonga, em Vila Franca de Xira, zonas às quais se ligam todos os casos identificados», não havendo «indícios de extensão do risco de doença para lá da zona já delimitada». A legionela, que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, foi detetada na sexta-feira, no concelho de Vila Franca de Xira. Empresa ADP fertilizantes garante que cumpre lei A empresa ADP Fertilizantes, sob investigação relacionada com o surto de legionella, garantiu ontem que cumpre a lei e segue as recomendações das inspeções, e disse esperar que os 400 trabalhadores possam voltar rapidamente a laborar. «A ADP Fertilizantes, S.A. aguarda que a causa da contaminação seja descoberta com a celeridade possível, de modo a permitir o regresso à laboração normal de uma empresa onde trabalham, em segurança e há quase 60 anos, mais de 400 trabalhadores», diz a administração da empresa num comunicado, citado pela “Lusa”. Na terça-feira, o ministro do Ambiente anunciou uma ação inspetiva extraordinária à empresa para averiguar um eventual crime ambiental relacionado com o surto de legionella, uma bactéria que já infetou 302 pessoas no concelho de Vila Franca de Xira, e que pode ter provocado até agora nove mortes (quatro delas ainda por confirmar, segundo a Direção Geral de Saúde). No comunicado a empresa garante que tem cooperado com as autoridades desde o início da epidemia, na semana passada, e que por iniciativa própria parou a fábrica quando soube que um funcionário tinha sido contaminado. «A ADP Fertilizantes, S.A. tem cumprido todas as obrigações impostas pela Lei quanto à análise e tratamento de águas que utiliza nas suas torres de arrefecimento das fábricas» e tem «sido submetida a inspeções regulares pelas autoridades, observando com rigor todas as recomendações por elas feitas», diz o comunicado. No mesmo documento esclarece-se ainda que as análises e tratamento das águas usadas nas torres estão a cargo de uma empresa especializada «ao abrigo de um contrato que consagra as melhores práticas da indústria», e que a ADP aguarda os resultados das investigações «com a consciência de que cumpriu com diligência as boas práticas em matéria de tratamento de águas». Os representantes dos trabalhadores da empresa marcaram para quinta-feira às 15:00 um plenário de esclarecimento. A Comissão de Trabalhadores, também em comunicado, considera que não existem sinais de alarme para a saúde e segurança dos trabalhadores. Quercus defende apuramento de responsabilidade do Estado A Quercus defendeu ontem a necessidade de apurar a responsabilidade do Estado no surto de legionella na região de Vila Franca de Xira e manifestou preocupação com as consequências da falta de meios na fiscalização na qualidade do ar. «Gostaríamos que houvesse uma averiguação mais a fundo sobre a responsabilidade do Estado», disse à agência “Lusa” o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, falando acerca do surto de legionella – bactéria que causa pneumonias graves e pode ser mortal -, que já provocou sete mortos e contaminou 291 pessoas. O ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, anunciou na terça-feira uma ação inspetiva extraordinária à empresa Adubos de Portugal, em Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa, para averiguar um eventual crime ambiental «por libertação de microrganismos» no ar. «Há uma responsabilidade que é, sem dúvida, das próprias empresas que têm de fazer as auditorias, de sua iniciativa, para que isto não aconteça, cumprir com a legislação é uma situação de responsabilidade ambiental que lhes cabe. Agora, pomos algumas dúvidas naquilo que foi dito ontem [terça-feira] pelo primeiro-ministro, que descartou completamente a responsabilidade do Estado», realçou Nuno Sequeira. A precaução «é fundamnetal e para termos alguma precaução é preciso uma fiscalização, uma vigilância, e isso não é compatível com falta de meios humanos, técnicos e financeiros que, infelizmente, continuamos a viver no nosso Estado, neste caso, no Ministério do Ambiente», salientou o presidente da Quercus. A situação de contaminação pela bactéria legionella «é um problema grave do ponto de vista ambiental, de saúde pública e de segurança», segundo o ambientalistas, e «pode tratar-se de um crime ambiental porque, se vier a confirmar-se, há uma libertação de microorganismos patogénicos no ambiente». No entanto, considerou relevante que «se continuem a validar todas as outras hipóteses» de focos de contaminação. Recordando as críticas da Quercus ao Orçamento do Estado para 2015, atualmente em discussão na especialidade, na Assembleia da República, sobre cortes nas verbas das entidades tuteladas pelo Ministério do Ambiente, Nuno Sequeira salientou que, «se naquele momento já havia problemas na monitorização da qualidade do ar e da água, vigilância e fiscalização, neste momento, com todas as restrições financeiras», os ambientalistas estão «preocupados e apreensivos». As dúvidas da Quercus relacionam-se com «aquilo que aquele desinvestimento podia causar e com os problemas futuros, as consequências que poderiam dai advir», especificou. Para a Quercus, seria importante que o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia fornecesse os dados sobre o número de fiscalizações e em que elementos incidiram, nomeadamente nas indústrias daquela zona, nos últimos meses, para comparação com dados dos anos anteriores de modo a perceber-se a evolução. A Doença do Legionário transmite-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares. |