A gripe sazonal é um problema que ocorre todos os anos e tem um grande impacto a nível mundial, e Portugal não é exceção. Este problema tem de ser levado a sério, pois infeta entre 5% a 10% de adultos e 20% a 30% de crianças por ano. A gripe sazonal leva milhares de pessoas às urgências todos os anos. Porém, este caminho só deveria ser mais utilizado quando os indivíduos têm problemas crónicos (como asma, obesidade, problemas cardíacos) ou quando os sintomas são diferentes dos habituais. Isto não é a realidade, pois existe uma grande afluência às urgências hospitalares de indivíduos que não necessitam de cuidados específicos, o que faz aumentar (e muito) os tempos de espera nos hospitais. As notícias do início de janeiro não foram muito animadoras, essencialmente para os Hospitais Amadora-Sintra, Évora, Faro e Abrantes. Estes apresentaram um tempo de espera superior a 12 horas e houve uma elevada incapacidade de resposta, pois o serviço de internamento atingiu o nível máximo de taxa de ocupação. Ainda assim, os pedidos foram inferiores em relação ao ano passado. Qual o motivo deste fenómeno acontecer passado um ano, sabendo que houve menos indivíduos a frequentarem as urgências? É verdade que existe falta de recursos humanos e camas para internar mas a afluência foi menor e os erros continuaram a persistir. Apesar de menos urgências, existem mais casos de indivíduos com problemas respiratórios e de componente social. Todavia, as unidades de saúde seguiram as instruções e enviaram doentes para outros hospitais com menor taxa de ocupação no internamento. É de notar que, o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) recebeu mais doentes que vêm do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Na região de Lisboa o aumento chegou aos 15%, comparativamente à procura do ano anterior. Este fenómeno tem duas fortes razões. A primeira é o aumento do poder de compra, ou seja, os indivíduos estão dispostos a pagar mais, mesmo sem seguro. A segunda razão é acerca dos seguros de saúde, pois muitas empresas oferecem uma grande diversidade aos seus trabalhadores e estes querem aproveitar. Para evitar o caos nas urgências, anualmente, a Direção-Geral da Saúde (DGS) emite uma circular informativa com recomendações para a vacinação contra a gripe. Esta circular é emitida no final de setembro e a vacina é fortemente recomendada a indivíduos com «idade igual ou superior a 65 anos, doentes crónicos e imunodeprimidos (a partir dos seis meses de idade), grávidas e profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados, por exemplo, em lares de idosos». Apesar da circular, existe sempre uma elevada afluência às urgências hospitalares e foram encontrados três problemas. O primeiro problema foi detetado em 2015 pelo professor Pedro Pita Barros acerca da divulgação da Saúde 24, sendo também visível em 2016. Esta rede foi criada com o objetivo de esclarecer dúvidas e também evitar a ida à urgência, mas apenas uma pequena parte da população é que usa essa rede. O segundo problema centrou-se na pouca/má utilização dos centros de saúde pois, os indivíduos preferem ir para o hospital da sua área de residência, invés de irem ao centro de saúde. A primeira triagem devia ser feita pelo centro de saúde para verificar se existe necessidade de ir para a urgência hospitalar (mas não é isto que acontece). Por último, a vacina da gripe é recomendada todos os anos para os grupos mais frágeis e mesmo assim há uma grande percentagem de pessoas que não a tomam. Porque é que isto acontece? A resposta é: falta de informação. Existem indivíduos que não a tomam devido aos efeitos secundários, apesar dos especialistas de saúde referirem sempre que não existe qualquer efeito da mesma, apesar de cada caso ser um caso. É notório o grande problema do tempo de espera nos hospitais portugueses, por isso, é necessário reagir tanto a curto como a médio/longo prazo. A curto prazo é necessário o reforço de equipas de profissionais de saúde, manter o horário alargado dos centros de saúde e, por último, um bom planeamento de gestão operacional. A médio/longo prazo, a reforma do serviço de urgência e emergência médica e oferecer condições dignas aos indivíduos e profissionais. Por fim, alertar a população que ir às urgências sem ser necessário poderá prejudicar ainda mais os seus sintomas, pois estarão em contacto com outros indivíduos com sintomas mais graves. Referências: Pita Barros, Pedro (2013). Economia da Saúde – Conceitos e Comportamentos. Ed. 3. Livraria Almedina, Lisboa Urgências privadas procuradas por mais utentes do público. Seasonal influenza. http://ecdc.europa.eu/seasonal-influenza Hospitais em ruptura. Nas urgências já se espera 12 horas. http://economico.sapo.pt/noticias/hospitais-em-ruptura-nas-urgencias-ja-se-espera-12-horas_238892.html As urgências dos hospitais, as soluções e o papel da gestão. https://momentoseconomicos.wordpress.com/2015/01/22/as-urgencias-dos-hospitais-as-solucoes-e-o-papel-da-gestao/ Joana Mouro Teixeira (A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores) |