A propósito do Dia Mundial das Doenças Reumáticas, que se assinala a 12 de outubro, a Associação de Doentes com Lúpus (ADL) lança o alerta para a toma diária e, alguns casos, por mais de 10 anos, de medicamentos corticoides superiores à dose de manutenção recomendada, com os riscos daí decorrentes de efeitos colaterais a longo prazo.
43% toma doses superiores
Um inquérito recente da World Lupus Federation, referido pela associação, em comunicado, revela dados alarmantes sobre a utilização destes medicamentos anti-inflamatórios e o impacto que têm na vida dos doentes.
O estudo demonstra que 91% dos doentes com lúpus usam ou usaram corticoides de forma habitual, sendo que três em cada quatro (75%) tomam há mais de um ano e 27% (mais de um em cada quatro) há mais de uma década.
Esta realidade traduz-se num risco significativamente aumentado de efeitos secundários graves, como diabetes, problemas cardíacos e osteoporose.
Na verdade, 60% dos inquiridos relataram ter experienciado, pelo menos, um efeito colateral grave, incluindo diabetes, problemas cardíacos e osteoporose. Um dado particularmente preocupante é que 43% dos inquiridos admitem tomar doses diárias de corticoides superiores à dose de manutenção recomendada, o que aumenta exponencialmente o risco de complicações.
Oferecer outras opções terapêuticas
“Apesar dos avanços da medicina, o tratamento do lúpus ainda apresenta desafios significativos para os doentes, nomeadamente no que toca aos efeitos secundários da medicação mais comummente utilizada, os anti-inflamatórios”, afirma, no comunicado, afirma Rita Mendes, presidente da ADL.
Este inquérito, segundo a responsável, “realça a importância de oferecer aos doentes com lúpus outras opções terapêuticas, que minimizem os efeitos secundários e permitam uma melhor qualidade de vida a longo prazo. A informação, o diálogo entre médico e doente e um diagnóstico precoce são essenciais para alcançar este objetivo”.
José Alves, diretor da unidade de doenças imunomediadas sistémicas do Hospital Fernando Fonseca, alerta: “Sabemos que os corticoides são uma espécie de empréstimo a prazo, em que os juros vão aumentando muito com o tempo. É fundamental que os doentes sejam informados sobre os riscos e benefícios da medicação e que sejam exploradas todas as alternativas terapêuticas disponíveis”.
A necessidade de partilha de informação e de uma abordagem terapêutica mais personalizada é, aliás, sublinhada pelo inquérito. Cerca de 39% dos doentes não se sentem envolvidos nas decisões sobre o seu tratamento, o que pode contribuir para a frustração e para a diminuição da adesão à terapêutica.