Madeira pode ser a primeira região de Portugal a erradicar a hepatite C 605

A Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) congratulou a Região Autónoma da Madeira pelos excelentes resultados obtidos com o seu Programa de Eliminação de Hepatite C, que sugerem que esta será a primeira região de Portugal e, provavelmente, uma das primeiras da Europa, a erradicar este vírus da hepatite C.

O presidente da APEF, José Presa, deixou uma mensagem ao poder político central, alertando para necessidade urgente deste programa ser implementado em todo o território nacional.

“O Programa de Eliminação de Hepatite C foi colocado em prática pelo interesse manifestado pela Secretaria Regional da Saúde da Madeira, ao projeto desenvolvido pelos profissionais de saúde que estão no terreno. O Governo central deve pôr os olhos nesta maneira de trabalhar e de abordar as situações”, afirmou José Presa, citado no comunicado divulgado à redação.

Segundo o responsável, as previsões apontavam 2030 como o ano em que Portugal iria eliminar a hepatite C, mas foram alteradas para 2050. “Felizmente, temos a Madeira, que, muito antes de 2030, vai fazer o despiste de toda a população, curando e erradicando a doença”, sublinhou.

“Durante a pandemia de covid-19 houve um decrescimento de cerca de 62% de casos tratados por hepatite C em Portugal, uma situação que vai tornar-se pesada nos próximos anos. Enquanto isso, na Madeira, durante a pandemia, o número de testes foi crescente, tendo alcançado resultados excelentes”, assinalou.

Luís Jasmins, gastrenterologista e presidente da mesa da Assembleia-Geral da APEF, garantiu que os resultados foram o culminar de três anos de trabalho.

“Desde que nos candidatámos ao Programa FOCUS, em 2018 – tendo desenvolvido, depois, o Programa de Eliminação de Hepatite C – que sempre tivemos apoio da Secretaria Regional da Saúde e Proteção Civil, nomeadamente do secretário, o Doutor Pedro Ramos. Podemos dizer que estes bons resultados são consequência também do apoio governamental”, acrescentou Luís Jasmins, citado no comunicado divulgado à comunicação social.

De acordo com Luís Jasmins, o primeiro ano do projeto foi essencialmente para a implementação do programa. Contudo, nos últimos dois anos, mesmo em pandemia, foram realizados 16.000 rastreios, dos quais 700 foram positivos. Confirmaram-se 40 casos, que seguiram para consulta e tratamento da doença.

“O programa começou por uma fase de micro eliminação em populações de alta prevalência, passando depois para os diferentes serviços hospitalares e Serviço de urgência e, finalmente, foi estendido a todos os centros de saúde. Vamos conseguir cumprir a meta da Organização Mundial da Saúde, de eliminar a hepatite C até 2030. Aliás, acredito que o consigamos fazer antes”, afirma Luís Jasmins.

A APEF lançou um novo desafio à Madeira: criar um programa piloto para que a medicação para a hepatite C fique disponível nas farmácias hospitalares, com o intuito de que o doente a possa levantar após ter sido feito o diagnóstico.

“Neste momento, os doentes esperam até seis meses para que a medicação chegue à farmácia do hospital, para depois poderem iniciar o tratamento. Creio que a Madeira vai aceitar o desafio e vai ser novamente um exemplo e uma inspiração para o resto do território”, finalizou José Presa.

O modelo de rastreio baseou-se na integração dos testes na prática clínica diária, que utilizaram as infraestruturas e o pessoal já existentes. Este projeto abrangeu os hospitais e os centros de saúde.

Caso a pessoa ainda não tenha sido rastreada, durante uma consulta, o médico irá receber um alerta informático com a indicação de que o doente possui os critérios de integração no rastreio e que ainda não fez essa análise. De seguida, o próprio sistema informático processa o pedido do anticorpo. O enfermeiro, ao colher o sangue, informa verbalmente o doente. Desta forma, é feita apenas uma colheita.