Maior parte de africanos com tuberculose excluída de ensaios de novos fármacos 30 de Setembro de 2015 A maior parte de africanos com tuberculose, doença associada ao VIH, vírus que causa a sida, é excluída de ensaios clínicos de novos medicamentos, refere um estudo ontem apresentado no Congresso Internacional da Sociedade Europeia de Pneumologia-2015.
Segundo os resultados de uma pesquisa divulgada na Cidade do Cabo, na África do Sul, o país com mais portadores do vírus da Sida a nível mundial, pacientes com tuberculose multirresistente «têm sido excluídos» – de testes experimentais daqueles fármacos, o que «resulta em desenvolvimento mais lento de novos medicamentos anti tuberculose», avançou a “Lusa”.
Falando no evento que decorre naquele país africano, o diretor do departamento de Ciência Aplicada do Hospital de Brooklyn Chest na Cidade do Cabo, Florian von Groote-Bidlingmaier, denunciou a exclusão de pacientes africanos com tuberculose em novos ensaios clínicos e alertou o congresso para a «necessidade urgente» de se desenvolver novos medicamentos para tratar a tuberculose e, em particular, fármacos para tuberculose multirresistente.
Na África do Sul, mais de 60% dos pacientes com tuberculose estão infetados com o vírus que provoca a Sida e a taxa é ainda maior em doentes que apresentam resistência aos medicamentos de tuberculose, indicou Florian von Groote-Bidlingmaier.
O investigador e seus colegas analisaram o registo de 421 pacientes com tuberculose multirresistente que tinham sido referenciados para participar em ensaios clínicos de novos fármacos anti tuberculose no Hospital de Brooklyn Chest na Cidade do Cabo.
Deste universo de doentes, os investigadores constaram que 105 enfermos, correspondente a 24,9%, foram referenciados como estando em tratamento antirretroviral, mas registavam baixo nível de glóbulos brancos (células CD4- estado imunitário de um portador do vírus VIH).
Outros 13,1% dos 421 pacientes habilitavam-se para serem incluídos no estudo, porém 12 (2,9%) foram formalmente abrangidos nos ensaios clínicos, sendo que a maior parte que apresentava baixo nível de CD4 e estava em tratamento antirretroviral «foi excluída destes testes», disse Florian von Groote-Bidlingmaier, citado pela publicação científica ScienceDaily.
«Precisamos de novos fármacos anti tuberculose e precisamos desenvolve-los rapidamente. O desenvolvimento de medicamentos é um processo demorado e caro e deve ser acelerado tanto quanto possível», afirmou.
O pesquisador lembrou que «é muito, muito difícil recrutar pacientes adequados com tuberculose multirresistente aos medicamentos para ensaios de novos medicamentos».
Por isso, «inclusão de portadores do VIH no início dos testes iria aumentar o número de participantes e a relevância dos resultados», afirmou Florian von Groote-Bidlingmaier, considerando os portadores destas pandemias como sendo «um grupo importante» para incluir nos ensaios clínicos.
Segundo o investigador, o VIH e a tuberculose «são muito mais difíceis de tratar e muito mais caro para os sistemas de saúde», daí que o envolvimento de pessoas com tuberculose multirresistente em testes iniciais «deve ser uma prioridade» não só para a África do Sul, como também para outras nações, defendeu.
A ONU prevê conseguir acabar com a sida até 2030, uma vez que as novas infeções pelo VIH desceram mais de um terço desde o ano 2000, incluindo em nações mais afetadas como a África do Sul, Índia, Quénia, Moçambique e Zimbabué. |