Os internamentos inapropriados nas unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) cresceram este ano, sendo que em março passado estavam 1048 pessoas na situação do chamado internamento social. Este número representa um aumento de 23% relativamente ao período homólogo de 2021, quando os internamentos eram 853.
Estes dados foram apurados e concluídos pelo 6.º Barómetro de Internamentos Sociais, a cargo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), com a ajuda da EY e apoio a nível institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS). Participaram no estudo 38 unidades hospitalares do SNS, o que compreende um universo de 19 335 camas, que significam 89% do total nacional.
As 1048 pessoas internadas nesta situação representam 6,3% da totalidade de internamentos nos hospitais portugueses, não considerando unidades psiquiátricas. O custo avaliado para o estado é de 19,5 milhões de euros, outro número em crescendo relativamente ao ano passado: 16,3 milhões. Assim, uma extrapolação diz que os internamentos inapropriados podem ter um impacto financeiro eventual de aproximadamente 124,5 milhões de euros.
A situação de internamento inapropriado acontece e é considerada por cada dia que um doente permanece no hospital sem que exista uma questão de saúde a justificar a sua permanência no local.
O mesmo barómetro sugere que um dos grandes fatores que resultam nos números apresentados tem a ver com atrasos na admissão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), à semelhança de 2021. Esta causa significará quase 60% dos internamentos não justificados, com o Norte (47%) e Lisboa e Vale do Tejo (34%) a serem as regiões com mais casos. Em conjunto, estas duas zonas têm mais de 8 em cada 10 das referidas situações.
Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, referiu que estes resultados significam um novo recuo “nas respostas aos internamentos inapropriados face ao que ocorreu durante a pandemia em que ficou demonstrado que a saúde e a segurança social podem trabalhar juntas”. “Esta aprendizagem de trabalho conjunto deve servir de base ao desenvolvimento e consolidação de um novo modelo de governação que vincule todos os agentes na criação de soluções mais adequadas às reais necessidades da população, com vista à melhoria da qualidade e eficiência dos cuidados prestados, assegurando a dignidade dos cidadãos e a boa gestão dos recursos públicos”, acrescentou.
Já Lélita Santos, responsável máxima da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) realça como “as causas principais do problema foram já repetidamente identificadas e, sem dúvida, estão muito dependentes do setor social”.
Do lado da Associação dos Profissionais de Serviço Social, a presidente Júlia Cardoso destaca a “importância do Barómetro” no sentido de dar “visões das limitações do país em responder” concretamente a dois “fenómenos sociais”. Neste caso, “o envelhecimento da sociedade portuguesa e uma expressão cada vez maior de pessoas com problemas de saúde mental”. Segundo a mesma responsável, é verificável um “esforço da atuação conjunta Saúde/Segurança Social, no período da pandemia, com resultados positivos”.