Mais de 20 entidades juntam-se ao Hospital de Coimbra para prevenir traumas
18 de julho de 2014
A Agência para a Prevenção do Trauma e Violação dos Direitos Humanos, criada em Coimbra, junta associações, instituições judiciárias e o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) para dar uma resposta conjunta a situações de trauma.
A agência pretende identificar vítimas e agressores de situações traumáticas físicas e psicológicas, criar um registo dos traumas, formar profissionais e desenvolver estratégias de intervenção, ligando «tribunais, associações que trabalham no terreno, polícia, escolas e profissionais da saúde», explicou à agência “Lusa” António Reis Marques, diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Psiquiatria e Saúde Mental (CRI-PSM) do CHUC.
Para o diretor do CRI-PSM, a agência «tenta dar uma resposta a um conjunto de problemas de saúde mental que não havia no país», podendo lidar com diferentes situações traumáticas, como o tráfico de seres humanos, a violência sexual e familiar, desastres ou guerra.
Apesar de «haver organizações que estão no terreno preocupadas com os traumas, não estão vocacionadas para a área da saúde», sendo necessário «ligar as diferentes organizações para que todos juntos possam prevenir e diminuir as consequências», disse Reis Marques.
Todas as instituições «têm que lidar, mais tarde ou mais cedo, com as pessoas que sofreram algum tipo de violência», sendo a agência uma forma de «coordenação de ações de prevenção e de formação das pessoas» para lidar com as diferentes situações, aclarou.
«Se as pessoas forem seguidas por especialistas, o sofrimento será substancialmente menor e a incapacidade que muitas vezes se cria pode ser bastante atenuada», frisou Reis Marques.
Álvaro Carvalho, coordenador do Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), que será o vice-presidente do organismo, também salientou que o trabalho da agência permite uma melhor ligação entre «o fenómeno da violência, normalmente ligado aos costumes, polícia e justiça», à saúde.
«Há situações de agressões que duram anos, sem que os profissionais de saúde tenham uma perceção» desses traumas, frisou Álvaro Carvalho, explicando que a agência quer desenvolver instrumentos de sensibilização e perícia a todos os profissionais de saúde para mais facilmente haver uma «identificação e registo com rigor das situações de trauma».
Para isso, peritos e especialistas irão dar formação a profissionais de saúde para melhor se perceber se «uma lesão é ocasional ou foi provocada por algum tipo de violência».
«Enquanto não houver uma forma rigorosa de se registar um fenómeno não o poderemos compreender» nem «desenvolver as respostas mais adequadas», sublinhou.
Álvaro Carvalho referiu ainda que, apesar de a experiência começar em Coimbra, há a intenção de a «estender ao resto do país».
O CHUC assinou uma declaração de compromissos na quarta-feira com mais de 20 entidades para a formação da agência, entre elas a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, o comando distrital da Polícia de Segurança Pública, a Cáritas, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, Agrupamento de Escolas Coimbra Oeste, Instituto de Medicina Legal e o Conselho Superior de Magistratura.