Mais de 200 dadores de órgãos este ano, maior número dos últimos cinco anos 676

Mais de 200 dadores de órgãos este ano, maior número dos últimos cinco anos

12 de Outubro de 2015

Nos primeiros oito meses do ano registaram-se em Portugal 218 dadores de órgãos, o maior número dos últimos cinco anos, e 521 transplantes, revelou a coordenadora nacional da transplantação, Ana França.

 

Este aumento de dadores cadáveres (mais 14 do que no mesmo período do ano passado) é acompanhada por uma ligeira diminuição, de 24% para 22%, de casos em que a morte é traumática, o que significa que as causas são mais médicas (78%).

 

Segundo a responsável, resulta daqui que a grande maioria dos dadores morre envelhecido ou doente, ou ambas, comprometendo muitas vezes a saúde dos órgãos a doar.

 

Quanto aos 521 transplantes realizados, dizem respeito a órgãos provenientes de todo o tipo de dadores – em morte cerebral, sequencial e vivo – sendo que 160 foram transplantes hepáticos e 34 cardíacos, o que traduz um crescimento destes transplantes para níveis superiores aos últimos quatro anos.

 

Os restantes transplantes realizados foram de rins (305), de pulmões (9) e de pâncreas (13).

 

Ana França revelou ainda que se registaram 20,9 dadores em morte cerebral, até agosto de 2015, por milhão de habitantes.

 

«Se conseguirmos manter esta atividade, conseguiremos atingir os 31,4 dadores por milhão de habitante», acrescentou.

 

A maior lista de espera para transplantação de órgãos de dador vivo diz respeito ao rim.

 

Até julho deste ano realizaram-se 37 transplantes de rim de dador vivo, um de fígado de dador vivo e oito de fígado de dador sequencial.

 

Segundo a coordenadora, no final do ano passado, havia uma lista de espera de 2.216 para órgãos, dos quais 81 morreram à espera.

 

Só para rim, a lista de espera ascendia aos 1.970, 43 dos quais acabaram por morrer.

 

Os objetivos do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) são diminuir as listas de espera e aumentar as oportunidades de transplante, designadamente de dadores vivos, em que «o país ainda está muito atrás».

 

Em Holanda, por exemplo, mais de 50% dos transplantes de rins são de dadores vivos.

 

Ana França disse mesmo que Portugal está a «estudar a possibilidade da doação cruzada com Espanha», já que a lei o permite, sendo contudo necessário criar normas em relação aos procedimentos e o consentimento informado.

 

«A doação renal cruzada é mais uma forma de tentar aumentar a doação em vida», sublinhou Hélder Trindade, presidente do IPST.

 

Ana França anunciou ainda que se vai iniciar em novembro a fase piloto do Registo Português de Transplantação e que serão desenvolvidos acordos com as sociedades científicas, Ordem dos Médicos e Direção-Geral da Saúde.

 

Dadores de rins aumentam, 30% dos órgãos sem condições para serem transplantados

 

O número de rins colhidos em dadores cadáver para transplantação está a aumentar, mas cerca de 30% não são aproveitados, por não estarem em condições, uma consequência de a população estar cada vez mais doente e envelhecida.

 

Este dado foi revelado pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, Fernando Macário, durante a abertura do 17.º Dia Europeu da Doação de Órgãos, uma iniciativa promovida anualmente pelo Conselho da Europa e que este ano se realiza em Lisboa.

 

Apesar do número de transplantes de rins ter estabilizado nos últimos anos – entre janeiro e julho de 2015 foram transplantados 305 rins -, a doação é um problema que preocupa os responsáveis, não só por não existirem tantos dadores vivos como seria desejável, mas também porque os rins provenientes de dadores cadáveres não estão muitas vezes em condições.

 

A agravar este quadro está a realidade da doença em Portugal, país com a maior taxa de insuficiência renal crónica de toda a Europa, explicou o responsável, acrescentando que só a Grécia e a Turquia se aproximam de Portugal, mas ainda assim com menos casos.

 

«Colhemos, analisamos e não aproveitamos muitos rins. Apesar do aumento da colheita, não se consegue o aumento do transplante de rim na mesma proporção, porque os dadores estão mais velhos e mais doentes», disse.

 

«A taxa de dador cadáver de rim, em 2014, foi de 27,8 por milhão de habitantes, o que deveria dar à volta de 55 rins, mas a taxa de transplantação foi de 37,6, porque grande parte não está em condições, 20% a 30% não se aproveitam», acrescentou Fernando Macário.

 

Isto também se explica por haver hoje muito mais rigor e todos os rins serem sujeitos a biópsias. Deste modo, muitos rins não são aproveitados, mas, quando são, mais de 90% dos transplantes renais estão a funcionar perfeitamente ao fim de um ano, explicou, sublinhando que, neste aspeto, «os números melhoraram muito».

 

Apesar de Portugal ocupar um lugar cimeiro em doação cadáver, o mesmo já não se verifica para as doações em vida.

 

Do total de transplantes renais registados este ano, apenas cerca de 10% foram de rins provenientes de dadores vivos (37 dadores).

 

A lista de espera para rim, em 31 de dezembro de 2014, era de 1.970 pessoas e, destas, 43 morreram à espera.

 

A incidência (novos casos) de doentes renais é de 230 novos casos por milhão de habitantes e a prevalência é superior a mil doentes por milhão de habitantes, só em diálise.