Mais de 250 camas de grandes hospitais do país ocupadas este ano com casos sociais 399

Mais de 250 camas de grandes hospitais do país ocupadas este ano com casos sociais

28 de julho de 2014

Mais de 250 camas de alguns dos maiores hospitais do país estiveram ocupadas, no primeiro semestre do ano, com doentes que tiveram de permanecer internados por incapacidade da família em os acolher e por falta de respostas sociais.

O tempo de espera da comparticipação económica para o doente ingressar num lar ou para pagar a um cuidador é o «obstáculo mais frequente à efetivação da alta hospitalar», segundo o Serviço Social do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN).

Neste centro hospitalar, que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, os casos de alta protelada por razões sociais baixaram de 103, em 2012, para 94, em 2013.

Até junho, já foram registadas 57 situações, que demoraram, em média, 13 dias a ser resolvidas, adianta o CHLN, numa resposta escrita enviada à agência “Lusa”.

A falta de «vaga imediata» para acolhimento em lares, residências assistidas, centros de acolhimento de crianças e comunidades terapêuticas foi responsável por 29,8% das situações de protelamento de alta.

Também as situações sinalizadas ao Ministério Público geraram «alguns tempos de espera», adiantou o CHLN, ressalvando que, este ano, ainda não foi registada nenhuma situação de abandono.

A diretora do Serviço Social do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Isabel Ventura, adiantou que «a maior parte das famílias não abandona os seus idosos».

«A família tem dificuldade em conciliar a vida familiar e profissional e, por falta de recursos humanos e financeiros, por vezes, não reúne condições para levar o seu doente», explicou Isabel Ventura.

Por outro lado, acrescentou, «continua a ser muito difícil» arranjar vaga num lar comparticipado pela Segurança Social e os lares privados são caros para os rendimentos das famílias.

Os casos de alta protelada por razões sociais, que excluem os doentes que aguardam integração na Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI), «são excepcionais» neste centro hospitalar, que agrega os hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) e dos Covões.

Em 2012, foram registados cinco casos, em 2013, 15 e, este ano, dez. Muitos destes casos são encaminhados pelo serviço de urgência dos HUC, como recurso para solucionar o problema social.

Além destes casos, os HUC referenciaram em 2013, para a RNCCI, 1.380 doentes e 811 no primeiro semestre do ano, cujo tempo de espera para integração nas unidades demorou, em média, de seis a 20 dias.

«Sabemos que estes tempos de espera têm interferência nas demoras médias dos internamentos, mas são o garante da continuidade de cuidados que os doentes necessitam», sublinhou Isabel Ventura.

Um estudo realizado nos últimos seis meses de 2013, no serviço de Medicina Interna dos HUC, verificou que 45% dos doentes tinham entre 76 e 85 anos, 61% tinham uma dependência elevada e 55% auferiam rendimentos entre 200 e 400 euros mensais.

A maioria (61%) vivia com a família e o apoio era assegurado por esta em 89% dos casos, refere o estudo, acrescentando que 46% foram referenciados para a RNCCI.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), que engloba os hospitais de S. José, Estefânia, St.º António dos Capuchos, Curry Cabral, Santa Marta e Maternidade Alfredo da Costa, sinalizou 256 casos sociais em 2013, menos 32 do que em 2012.

Até junho, foram registados 128 casos, refere o CHLC, que aponta como principais motivos para o protelamento de alta as dificuldades das famílias em assumir o papel de principal cuidador, os baixos recursos económicos, a «falta de resposta atempada da rede de suporte formal» e a dependência física e cognitiva dos doentes.

Já o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, registou um aumento do número de doentes com alta protelada, que passou de 66, em 2012, para 93, no ano seguinte.

Até junho foram assinaladas 60 situações e atualmente há cerca de 18 doentes a aguardarem resposta social.