Mais de mil novos enfermeiros até fim do ano no Serviço Nacional de Saúde 18 de setembro de 2014 O Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai contratar mais de mil enfermeiros até final do ano, anunciou ontem a Administração Central do Sistema de Saúde, num comunicado citado pela “Lusa”. Até ao momento, precisa o comunicado, já foi autorizada a contratação de 585 enfermeiros, e já está «em fase final de autorização» a contratação de outros 344, totalizando 929 processos de contratação. No ano passado as instituições do SNS recrutaram 579 enfermeiros, diz a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), acrescentando que o Ministério da Saúde está consciente da necessidade de reforçar a capacitação do SNS em enfermeiros. A 21 de agosto a ACSS já anunciava que tinham sido contratados este ano 409 enfermeiros e que iriam ser contratados mais «um número significativo» de profissionais. A Ordem dos Enfermeiros tem alertado para o estado de exaustão em que se encontram os enfermeiros, apontando os turnos longos e o elevado número de doentes por enfermeiro. De exaustão fala também o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, motivo pela qual, e pela contratação de mais profissionais, marcou uma greve nacional para os dias 24 e 25. No início do mês o ministro da Saúde, Paulo Macedo, reconheceu a existência de «insatisfação» entre os profissionais do setor, mas considerou «anormais» e em «risco de banalização» as greves que afetam apenas o SNS. Nos últimos meses têm decorrido greves setoriais da classe. Só 20% dos enfermeiros têm especialidade e não são contratados como tal Apenas 20% dos enfermeiros portugueses são especialistas e destes a maioria emigra, porque as instituições de saúde em Portugal não valorizam a formação e contratam-nos com categoria e rendimento igual aos não especializados. A informação foi dada à “Lusa” pelo coordenador da Unidade de Ensino de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa, Sérgio Deodato, a propósito do encontro de um grupo de peritos que decorreu ontem para debater o futuro das especialidades de enfermagem em Portugal. Segundo o responsável, os enfermeiros especialistas são os primeiros a emigrar à procura de uma melhor situação profissional, pois recebem «condições de excelência noutros países». «Não temos o número de especialistas necessário. Temos conhecimento científico e tecnológico avançado em muitas áreas, como os cuidados intensivos e a oncologia, mas depois não existem enfermeiros formados para os usar», afirmou, acrescentando que estes meios ficam subaproveitados porque são utilizados por enfermeiros de cuidados gerais, sem especialização. Citando dados da Ordem dos Enfermeiros, Sérgio Deodato afirmou que 80% dos enfermeiros não têm especialidade. «Com a crise, os enfermeiros ficam com formação, com grau académico de mestre, e depois chegam às instituições de saúde e não são contratados como tal, mas como eram (cuidados gerais). O principal empregador é o Estado e as razões são económicas e financeiras. É profundamente injusto, enfermeiros a prestar cuidados especializados com a categoria e o rendimento igual ao que tinham», considerou. A este problema acresce outro que é o fim das dispensas no Serviço Nacional de Saúde para fazer formação. Hoje os enfermeiros não são dispensados para fazer a especialidade, situação agravada pelo alargamento do horário de trabalho para as 40 horas semanais, que os deixa com pouco tempo livre e extremo cansaço para ainda fazerem formação. «Se este esforço não é reconhecido posteriormente, os enfermeiros acabam por achar que não vale a pena o investimento, de tempo e financeiro», lamentou o responsável, sublinhando que quem perde são os utentes, que têm tecnologia e conhecimento científico ao seu dispor, mas que não é utilizado por falta de profissionais especializados. |