Mais formação e apoio domiciliário devem ser apostas nos cuidados paliativos 19 de junho de 2014
Cristina Lasmarías Martínez, enfermeira e consultora do Observatório QUALY do Centro Colaborador da OMS para Programas Públicos de Cuidados Paliativos, está em Lisboa para participar 2º Encontro Interdisciplinar de Cuidados Paliativos, que se realiza na sexta-feira, e visitou hoje a Unidade de Saúde Familiar de Fernão Ferro, no Seixal, e a Unidade de Saúde Maria José Nigueira Pinto, em Cascais.
No final das duas visitas, a enfermeira espanhola mostrou-se «muito bem impressionada» com os cuidados prestados nos locais e lamentou que não houvesse mais unidades no país, avança a “Lusa”.
«Cumprem os requisitos que são importantes para dar qualidade e atenção aos pacientes e também às famílias, todos os detalhes relacionados com a atenção direta, controlo de sintomas, apoio e conforto. O ideal era que pudesse haver mais centros como estes no resto do país», sustentou.
No entanto, Cristina Martínez considerou que, para melhorar a rede de cuidados paliativos, é fundamental oferecer a atenção que o paciente deseja receber.
«A formação é uma das ferramentas principais para oferecer bons cuidados paliativos. As pessoas têm que estar formadas e conseguir explorar o que o paciente quer e precisa, saber se a pessoa quer estar em casa ou num outro sítio e se a família é capaz de oferecer atenção no domicílio», afirmou.
A especialista frisou que, na generalidade, as pessoas preferem morrer em casa, mas também há quem não o queira e, por isso, reforçou, «é necessário que os profissionais estejam formados para poder explorar os desejos do doente e poder dar resposta».
Cristina Martínez adiantou que em Espanha a rede de cuidados paliativos está muito bem desenvolvida, mas sublinhou que essa formação deve estar presente em qualquer especialidade, sendo a enfermagem a área que mais peso tem na área das respostas.
Ana Antunes, do Conselho Diretivo da Secção Regional Sul da Ordem dos Enfermeiros, disse à “Lusa” que há a intenção de tornar obrigatório, nas licenciaturas em enfermagem, formação básica em paliativos.
«Em 100 pessoas, 80 precisam de atenções paliativas e, por isso, há uma necessidade de aumentar as equipas intrahospitalares e de suporte comunitário», sustentou.
Sobre a falta de vagas em hospitais nas unidades de cuidados paliativos, Ana Antunes referiu que «mais do que criar camas de internamento, o mais importante seria capacitar os cuidadores e formar profissionais que trabalham junto de pessoas ao domicílio».
«Se as pessoas preferem morrer em casa não vale a pena andarmos a investir dinheiro dos contribuintes. Claro que é necessário, porque há doentes sem condições para estar em casa e famílias com exaustação, mas a aposta tem de ser sobretudo na formação dos profissionais que acompanham as pessoas em casa para que a grande maioria que prefere morrer em casa possa morrer com dignidade», concluiu.
A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros vai promover na sexta-feira, no Auditório Lispólis, Fórum do Polo Tecnológico de Lisboa, o 2.º Encontro Interdisciplinar de Cuidados Paliativos – “Detalhes em Cuidados Paliativos”.
A iniciativa pretende «promover um momento de discussão e debate multidisciplinar entre profissionais de saúde com intervenção no âmbito dos cuidados paliativos e ainda promover a visibilidade das atividades desenvolvidas pelos colegas em contexto de cuidados paliativos». |