Malária: Investigadores portugueses pesquisam medicamentos para atacar proteção do parasita 776

Malária: Investigadores portugueses pesquisam medicamentos para atacar proteção do parasita

 


07 de novembro de 2017

Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (iMM) descobriram como se protege o parasita da malária no fígado humano, estando agora a pesquisar medicamentos que ataquem essa proteção, sem a qual o parasita morre.

Os investigadores consideram que a proteína UIS3 – que se liga a outra proteína para proteger o parasita de se autodestruir no fígado – «é um possível calcanhar de Aquiles» do parasita.

Num estudo publicado na revista “Nature Microbiology” os cientistas defendem que a investigação «demonstrou que sem a proteína UIS3 o parasita não é capaz de sobreviver dentro de células do fígado de ratinhos normais. No entanto, recupera a sua capacidade infecciosa se a autofagia do hospedeiro se encontrar comprometida», segundo um comunicado do iMM.

A investigadora Maria Mota, que liderou a equipa, explicou à “Lusa” que o parasita da malária se aloja primeiro no fígado e só cerca de uma semana depois infeta as células do sangue, um mecanismo que só foi descoberto a meio do século passado.

«A fase hepática (que diz respeito ao fígado) é muito importante», porque a picada de mosquito transmite um pequeno número de parasitas, que só depois se multiplicam por milhares, explicou a investigadora, dando um exemplo.

O que a equipa descobriu foi que o parasita deposita uma proteína na membrana que o envolve o que impede que o sistema o destrua, ainda que o detete. «As células têm um sistema de autofagia, que serve para destruírem corpos estranhos, o que se passa neste caso é que a célula ataca mas o parasita defende-se», disse Maria Mota.

«Se conseguirmos bloquear o inibidor o hospedeiro destrói o parasita», disse a investigadora, acrescentando que o próximo passo é descobrir um medicamento que impeça a formação desse “escudo protetor”.

«Arranjar um fármaco não é simples, embora em teoria seja simples», disse Maria Mota, acrescentando que a equipa está a testar já «duas ou três» formas mas que soluções finais demorarão sempre alguns anos.

E deverá ser um medicamento profilático, para viajantes e pessoas que vivam em zonas endémicas, afirmou.

«Esta descoberta identifica a proteína UIS3 como um possível alvo para o desenvolvimento de novos fármacos contra o parasita da malária, nomeadamente contra as formas hepáticas da doença», refere o comunicado do iMM.