Más condições habitacionais comprometem saúde de pessoas com mais de 60 anos 147

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que as más condições habitacionais comprometem a saúde e qualidade de vida dos mais velhos que residem no Porto.

O estudo envolveu 600 participantes da coorte EPIPorto [um estudo longitudinal do ISPUP que, desde 1999, segue uma amostra de residentes do concelho] e teve por base dados recolhido em 2022, referiu, ontem, o instituto numa publicação no seu site, citada pela Lusa.

De acordo com o ISPUP, o estudo analisou o impacto da insegurança residencial na saúde e qualidade de vida dos adultos com 60 anos ou mais residentes no Porto.

Entre os fatores analisados destacam-se, por um lado, as condições da habitação, acessibilidade económica, habitabilidade, segurança e estabilidade residencial e, por outro, a solidão, qualidade de vida, função cognitiva, perceção de envelhecimento saudável e qualidade do sono.

Mais de metade dos participantes (52,3%) não dispõe de fontes de aquecimento em casa, como aquecimento central, lareira ou ar condicionado, concluiu o estudo.

A falta de aquecimento em casa “está associada a uma qualidade de vida cerca de 2% inferior” e a “um aumento de aproximadamente 9% dos níveis de solidão”.

Além das fontes de aquecimento, 17,2% os participantes relataram problemas como infiltrações, humidade ou apodrecimento das janelas ou soalho, e 8% indicaram a falta de luz natural.

As pessoas que vivem em habitações com estes problemas apresentam, em média, uma qualidade de vida 6% inferior à média e um aumento de cerca de 15% dos níveis de solidão.

Uma parte significativa dos participantes (32,8%) relatou a existência de ruído proveniente de vizinhos ou da rua, 17,5% problemas de poluição, sujidade ou mau cheiro, e 11,7% assinalaram a ocorrência de crimes, violência ou vandalismo perto da sua residência.

Viver em áreas com ruído e a presença de poluição ou sujidade está associada a uma qualidade de vida cerca de 3% inferior, sendo que estes problemas representam aumentos entre os 7% e 16% nos níveis de solidão.

Mais de 160 dos participantes (28,3%) afirmaram viver uma situação de sobrecarga financeira devido aos custos associados à habitação e alocam “40% ou mais do seu rendimento para despesas com habitação”.

“A sobrecarga financeira por custos relacionados com a habitação está associada a níveis de solidão cerca de 8% mais altos, o despejo a níveis de solidão 51% mais altos e a mudança frequente de residência a níveis de solidão 17% mais altos”, indica.

O estudo concluiu ainda que a ausência de instalações sanitárias no interior da habitação “está associada a um desempenho cognitivo cerca de 7% inferior” e que, relativamente à qualidade do sono, dormir menos do que sete horas “é mais comum nos residentes em habitação social”.

Citada no comunicado, a primeira autora do estudo, Cláudia Jardim Santos, salienta a necessidade de existirem “condições habitacionais adequadas, acessíveis e estáveis para um envelhecimento saudável”.

“Isto poderá ser alcançado através de programas habitacionais que facilitem as reparações necessárias nas residências, políticas que promovam a criação de habitação acessível e medidas que protejam os arrendatários de praticas abusivas por parte dos proprietários”, assinala a investigadora.