Este não é um tema novo, nem um assunto recentemente em voga no quotidiano dos farmacêuticos. Esta também não é uma necessidade nova – é há muito sabido que a população portuguesa enfrenta a dificuldade de aceder facilmente a alguns dos medicamentos hospitalares essenciais à sua saúde, e que o acesso significa muito mais do que quilómetros a ser percorridos. E também não é novidade que este assunto enfatiza as desigualdades entre quem vive nos centros urbanos face aos que vivem no interior do país.
A novidade foi trazida quando, em plena crise pandémica causada pela COVID-19 e com as restrições requeridas, fomos capazes de estabelecer um modelo de dispensa de medicamentos hospitalares centrado no utente, que uniu esforços e uma colaboração sem precedentes em prol das pessoas, para que os seus medicamentos essenciais fossem dispensados em verdadeira proximidade.
E a pergunta que se coloca agora é: como será daqui para a frente? Quando e como será dado o passo seguinte, de forma a criarmos um modelo de proximidade verdadeiramente real? Sabemos que muito há ainda a refletir sobre o modelo que melhor se adaptará às necessidades dos doentes e ao contexto socioeconómico do nosso país, mas acima de tudo, sabemos que os farmacêuticos estão prontos para o desafio, colaborar e reinventar-se uma vez mais numa atividade que beneficiará sobretudo a nossa população.
E as farmácias comunitárias não podem deixar de ser o principal parceiro do SNS nesta missão, suportadas por resilientes circuitos logísticos de distribuidores grossistas de que dispomos em Portugal – esta é a visão dos jovens farmacêuticos. Usufruímos de uma rede de farmácias que está próxima das pessoas, de Norte a Sul do país e Regiões Autónomas, munidas de equipas de farmacêuticos que, melhor do que ninguém, se encontram preparadas para exercer o ato farmacêutico da dispensa de medicamentos, e que, acima de tudo, se mostram disponíveis para colaborar, aprender, e adaptar-se à mudança. E, ainda assim, o que nos impede de avançar para um modelo que atribua às Farmácias Comunitárias uma maior intervenção na dispensa de proximidade de medicamentos hospitalares?
A ineficácia dos processos de revisão periódica dos estatutos de dispensa dos medicamentos e os desadequados regimes de comparticipação que lhe são aplicáveis, os modelos económicos de financiamento de medicamentos estabelecidos, não devem ser um fator impeditivo para o estabelecimento de um modelo que nos aproxima de modelos mais vanguardistas de outros países europeus. Haverá naturalmente espaço para novos circuitos e novas formas de colaboração entre os farmacêuticos nas suas diversas áreas de intervenção, nomeadamente através dos Cuidados Primários de Saúde, os quais necessitarão da devida capacitação ao nível de contratação de mais farmacêuticos, mas essas opções devem fundamentar-se na relevância clínica ou outros fatores de decisão que não as restrições regulamentares, as quais devem ser atendidas pela autoridade competente. Num momento crítico para a sociedade, não deixámos ninguém esquecido e soubemos dar resposta a um problema real que apenas se enfatizou. Cabe-nos agora unir esforços para reivindicar que a decisão da tutela, a quem compete deliberar sobre as soluções, seja verdadeiramente centrada e orientada para servir as necessidades da nossa população, garantindo uma maior igualdade social no nosso país.
Regina Dias
Vice-Presidente da APJF.
Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF)