Medicamentos inovadores nos hospitais duplicaram em cinco anos 435

16 de Fevereiro de 2015

Nos últimos cincos anos, o número de medicamentos inovadores aprovados para uso nos hospitais do SNS duplicou. Em 2010 foram autorizados 13 e no ano passado 23. De acordo com o INFARMED, a despesa com estes medicamentos, quase triplicou, durante o mesmo período. Se em 2010 os gastos com novos medicamentos foram de cerca de 50 milhões de euros, em 2014, ascenderam até aos 142 milhões de euros.

O caso do medicamento para tratar a hepatite C trouxe a debate a questão dos elevados preços dos fármacos inovadores. De acordo com António Vaz Carneiro, que dirige o Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, a polémica em torno do medicamento da Gilead Sciences «vai repetir-se inexoravelmente, vai intensificar-se».

O especialista lembrou, ao “Público”, que a Indústria está «cada vez mais eficaz» e que há medicamentos «extraordinários». Contudo, no entender de António Vaz Carneiro, é necessário resolver o problema dos custos. «Temos de saber quanto estamos dispostos a pagar na saúde e deveríamos – os profissionais de saúde, a Indústria, o público – ser capazes de nos sentar a uma mesa e encontrar uma solução minimamente aceitável», referiu.

O diretor clínico do Instituto Português de Oncologia de Lisboa considera que «os preços nem sempre correspondem ao valor terapêutico dos medicamentos, mas sim à disponibilidade para pagar». Comparativamente com o cancro, considera que os fármacos da hepatite C, onde a cura é possível, até têm um preço acessível. «No cancro não são tão eficazes ou são dados durante períodos de tempo muito grandes e a soma disso é muito cara», explicou João Oliveira, dando como exemplo um grupo de 90 doentes que custaram, em 2014, dois milhões ao IPO e que não ficam curados. Mas esperam-se mudanças com a aposta em fármacos que atuam na imunidade das células neoplásicas.

O especialista reconhece que o problema de preços é global e que os «climas emocionais» da discussão não ajudam, insistindo numa negociação europeia. Garantiu que no IPO não têm tido grandes problemas em aceder aos fármacos, até porque encontraram uma solução: trocam informação com a indústria e acabam por conseguir ter as coisas mais cedo. De futuro, acredita que é preciso mudar culturas. «Há progressos marginais e todos somados são importantes. Mas tem havido uma dimensão de esperança muito maior do que a da efetividade».