15 de Abril de 2015 Uma especialista em hepatite C defendeu ontem que a introdução de novos medicamentos para o tratamento do vírus que provoca a doença traz vantagens aos doentes, mas ainda há «muito trabalho» a fazer para ajustar estes fármacos a pessoas com insuficiência renal. Alice Santana é uma das médicas que vai participar no Encontro Renal 2015, que se realiza entre quarta-feira e sábado, em Vilamoura, no Algarve, e disse à “Lusa” que sua intervenção irá focar-se nos tratamentos disponíveis até aqui e nos que se perspetivam para o futuro dos doentes em diálise ou transplantados e que tenham simultaneamente o vírus da hepatite C. Entre esses novos tratamentos para a hepatite C estão alguns medicamentos novos e já aprovados, como o Sofosbuvir, que «muita tinta fez correr na imprensa» devido aos preços elevados, ou outros que ainda estão em ensaios clínicos e ainda em negociação de preços com o INFARMED, precisou. Alice Santana disse que os dados mais recentes disponíveis são relativos a 2013 e dão conta «de cerca de 450 doentes em diálise e portadores do vírus da hepatite C», considerou que estes novos tratamentos «podem vir a ajudar» estes pacientes, mas advertiu que ainda há «muito trabalho» a fazer para perceber como melhor podem ser utilizados nestes casos concretos. «Mesmo em relação ao Sofosbuvir, que já existe e já está em utilização aqui em Portugal, ainda não existem dados muito concretos sobre a sua aplicação nos doentes em diálise e nos doentes transplantados. E isto por quê? Porque estas subpopulações depois têm que ser estudadas com as suas particularidades», justificou. A especialista precisou que é necessário «ver não só a eficácia dos fármacos nesta população com outras características, como também as doses necessárias e a interação com outros fármacos que estes doentes fazem». «E isso aí é ainda mais importante em relação aos doentes transplantados, que têm que fazer medicamentos imunossupressores para não rejeitarem o rim ou outros órgãos, e temos que ver qual é a interferência destes novos fármacos com os imunossupressores para procedermos depois aos ajustes em toda a medicação», argumentou ainda Alice Santana. A especialista observou que, apesar de já existirem «alguns dados disponíveis dos novos fármacos em relação a posologia e a interações medicamentosas», ainda «há muito trabalho pela frente» e «não existem ainda grandes estudos com muitos casos quer na população de doentes em diálise, quer na população de doentes transplantados». Na comunicação que irá fazer no encontro, organizado pela Sociedade Portuguesa de Nefrologia, Alice Santana vai também debruçar-se sobre as terapêuticas que estes doentes tinham até agora e que, com «indiciações mais ou menos definidas» e «algumas controversas», acabavam por ser «sempre muito restritivas», devido «à toxicidade dos fármacos que existiam para tratar o vírus da hepatite C». |