Médico: Doenças oncológicas podiam ser resolvidas com aposta na prevenção 793

Médico: Doenças oncológicas podiam ser resolvidas com aposta na prevenção

27 de janeiro de 2017

As doenças oncológicas poderiam ser evitadas ou tratadas precocemente se houvesse uma aposta na medicina preventiva, o que se traduziria numa poupança de milhões de euros, disse o diretor do Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de Leiria.

Segundo o especialista, muitos cancros poderiam ser travados logo no seu início, através de tratamentos mais simples, poupando muito dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde.

«Temos uma visão curta no que se refere à medicina. Vamos apostar na medicina preventiva, com menos custos, sem IPO [instituto português de oncologia] cheios, com doentes à espera de seis meses para cirurgia. Não é com tratamento curativo, que tem custos económicos e sofrimento enormes, que se poupa», disse à agência “Lusa”.

José Garcia falava a propósito das I Jornadas de Urologia, que decorreram ontem no hospital de Santo André, em Leiria, como forma de «sentar à mesma mesa» médicos da medicina familiar e especialistas, «alterar mentalidades» e «alertar para o diagnóstico precoce».

José Garcia alertou para a necessidade de recorrer aos meios complementares de diagnóstico existentes, como ecografias e análises de rotina, nomeadamente ao PSA, marcador que poderá indicar presença do cancro da próstata, que «saem mais barato do que os tratamentos oncológicos e fármacos são caríssimos».

«Podemos intervir de imediato e eliminar qualquer “grãozinho” que esteja a começar a crescer», reforçou.

Considerando que o cancro da próstata é «uma praga», José Garcia acusa os homens de «ignorantes», pois «continuam a não querer saber porque é que há mais viúvas que os viúvos», referindo-se à pouca adesão aos rastreios.

O médico alertou ainda quem tem fatores hereditários a ter uma «vigilância precoce» e considerou que o tabaco «é um dos piores inimigos».

José Garcia revelou que as patologias do foro urológico estão presentes em todas fases etárias. Nas crianças são mais comuns a distrofia vesical, síndrome de barragem infra-vesical condicionada por valvas posteriores, refluxo vesico-uretérico e o escroto agudo (torção do testículo, cordão espermático).

A partir dos 16 anos até à idade adulta surgem as infeções do trato urinário, DST (doenças sexualmente transmissíveis) e litíases urinárias. A maior incidência do tumor do rim surge a partir dos 30 a 40 anos.

José Garcia frisou também que o avanço da medicina na área da urologia tem sido grande. «Antes, as pessoas perdiam um rim por causa de uma pedra. Nos anos 1990, o hospital de Leiria introduziu uma técnica a litotrícia intercorpórea. Continua a ser uma grande cirurgia, mas aproveitamos as vias naturais para fazer a intervenção, sem via aberta. Em 24 horas, a pessoa vai para casa».

«Em 2000, avançámos para a cirurgia extracorpórea, através do choque laser. Não é preciso ir ao bloco, não anestesia. Dispensa recursos humanos, ocupação de camas do hospital e permite ao utente ir para casa pouco depois», informou.

As intervenções são cada vez menos invasivas, «com um pós-operatório espetacular e internamento curto».

«Temos vindo a crescer em Leiria e com muito orgulho. Leiria tem capacidade e condições para assumir estas intervenções», rematou José Garcia.