O médico gastroenterologista Jorge Fonseca, diretor do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Garcia de Orta e Professor Catedrático do Instituto Universitário Egas Moniz, alerta para que “a diarreia aguda é mais prevalente nos meses de calor e é um motivo frequente de ida às urgências”.
“No verão, os nossos alimentos, as substâncias orgânicas estão mais quentes e os microorganismos multiplicam-se com maior facilidade. Há o risco de os alimentos terem grandes cargas desses micro-organismos patogénicos, capazes de provocar doença”, explica, lembrando que como passamos mais tempo em passeios, acabamos por comer mais vezes fora, temos uma maior tendência para comermos mais frutas, vegetais e outros alimentos não cozinhados, havendo maior risco de ingestão de alimentos contaminados e de contacto com micro-organismos, na areia, na terra e até nas águas que escolhemos para tomar banho.
A maioria dos casos de diarreia aguda está relacionada com bactérias patogénicas (como a Escherichia coli, Salmonella, Shigella ou a Campylobacter jejuni) ou com vírus (norovírus, rotavírus), embora possa também ser provocada por parasitas.
“As diarreias agudas são habitualmente muito breves, um a três dias, e são frequentemente autolimitadas, ou seja, desaparecem espontaneamente”, sublinha.
Por isso, defende que a “prevenção é o melhor remédio para não transformar um agradável passeio em família num pesadelo”.
“As pessoas, antes de irem de férias, devem procurar o seu médico ou farmacêutico para terem consigo medicamentos que tratem a diarreia aguda e que sejam capazes de restabelecer a flora intestinal alterada, a tomar em caso de necessidade e sob a orientação prévia desse médico ou farmacêutico”, aconselha o especialista.
Contudo, “nos casos de diarreia simples (cinco a seis dejeções por dia de fezes moles), sem febre superior a 37,5ºC, sem mal-estar excessivo, as pessoas não se devem expor ao risco de se deslocarem a um serviço de urgência, em particular no atual contexto de pandemia. Devem ir ao médico perante uma diarreia prolongada acompanhada, por exemplo, de febre elevada, sangue nas fezes ou sinais de desidratação (prostração, vómitos, falta de força ou pressão arterial baixa)”, explica.
Relativamente à desidratação, esta pode ser particularmente preocupante nas crianças, nos idosos e doentes crónicos. Em caso de diarreia, Jorge Fonseca recomenda a reidratação com água e chá de ervas, para serem bebidos com frequência e em pequenas quantidades. Sugere que se evitem os alimentos demasiado ricos em fibras ou em gorduras. A reintrodução de alimentos deve ser gradual, para verificar se são bem tolerados. E não se deve forçar a comer quando não se têm apetite, contudo é muito importante mantê-las hidratadas.
Jorge Fonseca aconselha a que as pessoas tenham especial cuidado na escolha dos locais onde fazem as refeições, na forma como acondicionam os alimentos quando levam comida para consumir fora de casa, assim como devem optar por bebidas engarrafadas e lavar frequentemente as mãos.
“Num dia de calor, as fontes podem ser tentadoras para matar a sede, mas é preciso ter cuidado porque a água pode estar contaminada. Daí que não seja apenas importante ter em conta a qualidade dos sumos, a água a copo e o gelo que se coloca nas bebidas que se consomem em bares ou restaurantes”, explica.
O médico gastroenterologista aconselha ainda a uma atenção redobrada com os locais escolhidos para tomar banho, pois “as praias fluviais, os rios e as piscinas, regra geral, não têm uma monitorização tão sistemática como a água do mar, portanto devemos optar por locais onde haja plena confiança na qualidade da água”, conclui.