Médico julgado em Loures por abortos ilegais realizados em hospitais públicos 25 de Janeiro de 2016 O Tribunal de Loures começa a julgar na terça-feira um médico acusado pelo Ministério Público (MP) de abortos ilegais, alegadamente realizados no Hospital Amadora/Sintra e no Centro Hospitalar de Torres Vedras, entre 2008 e 2012. O início do julgamento está agendado para as 09:15, após o tribunal ter conseguido notificar o especialista de ginecologia/obstetrícia, atualmente com 52 anos e natural de Cuba, que se encontrava fora de Portugal. O despacho de acusação do MP, a que a agência “Lusa” teve acesso, descreve três situações de alegados abortos ilegais praticados a troco de dinheiro: um em 2008, no Hospital Amadora/Sintra, e dois no Centro Hospitalar de Torres Vedras, ambos em 2012, sendo que uma das pacientes é a mesma que havia realizado o aborto em 2008. O médico residia em Portugal desde 2002, tendo exercido a sua especialidade em diversas clínicas e hospitais nacionais, nomeadamente na Clínica dos Arcos, em Lisboa – «onde procedia à realização de intervenções de interrupção voluntária de gravidez (IVG) -, no hospital Amadora/Sintra e, posteriormente, no Centro Hospitalar de Torres Vedras». Segundo o MP, antes de março de 2008, o arguido «concebeu um plano que contemplava a realização de abortos a mulheres grávidas que se lhe apresentassem para o efeito da Clínica dos Arcos, estabelecimento reconhecido oficialmente para a realização da IVG, mediante a entrega de contrapartidas monetárias, com o objetivo de obter benefícios económicos». A acusação refere que, quando atendia as utentes, o médico, embora acedendo a realizar a IVG – porque as mesmas se encontravam nas dez primeiras semanas de gravidez -, «recusava-se a realizá-las na Clínica dos Arcos, procedendo ao seu encaminhamento para os hospitais públicos»: Hospital Amadora/Sintra e, mais tarde, para o Centro Hospitalar de Torres Vedras, onde exercia funções idênticas, em regime de prestação de serviços. «Nesse encaminhamento, o arguido instruía essas mulheres, indicando-lhes concretamente que se deveriam dirigir aos serviços de urgência de tais hospitais, nos dias em que aí se achasse de serviço, queixando-se de dores ou hemorragias, caso em que seriam pelo mesmo atendidas, sujeitas a uma ecografia e (…) submetidas ao pretendido aborto», explica o MP. No registo clínico das pacientes, o médico justificava o ato médico como «meras intervenções cirúrgicas de dilatação e curetagem do útero após parto ou aborto espontâneo». O arguido informava ainda as mulheres que a realização do aborto nestas situações, «implicava o pagamento de uma contrapartida financeira, que se podia situar entre os 300 e os 2.500 euros, a ser-lhe entregue imediatamente antes da sua concretização, em dinheiro». O MP deduziu acusação contra uma outra médica, por alegada cumplicidade com o principal arguido. Contudo, a médica requereu a abertura de instrução, tendo o Tribunal de Loures determinado o arquivamento dos autos relativos a esta profissional. O médico está acusado de dois crimes de aborto agravado, de dois crimes de falsificação de documento, de cinco crimes de peculato, e de três crimes de recebimento indevido de vantagem. |