Médicos apelam a doentes para não irem aos serviços de saúde durante a greve 518

Médicos apelam a doentes para não irem aos serviços de saúde durante a greve

2 de julho de 2014

A Ordem dos Médicos apelou ontem aos doentes para não se deslocarem aos centros de saúde e hospitais, nos dias 8 e 9 de julho, por causa da greve, e convidou-os a juntarem-se numa concentração frente ao ministério.

Em comunicado, a Ordem dos Médicos (OM) pede aos doentes para não irem às consultas ou realizar exames complementares de diagnóstico, nos serviços de saúde públicos, durante os dois dias de greve dos médicos, «para evitar despesas e perdas de tempo desnecessárias», citou a “Lusa”.

A OM apela ainda à «participação dos doentes e de toda a população» numa concentração marcada para 8 de Julho, às 15:30, em frente ao Ministério da Saúde, “Pela nossa Saúde e em defesa do SNS”.

O pretexto é a «degradação» do Serviço Nacional de Saúde (SNS), por opção política, uma vez que «este Governo impôs mais cortes à saúde e aos doentes do que aquilo a que foi forçado pela troika».

No comunicado intitulado “Memorando de exigências”, a OM afirma mesmo que o SNS está a sofrer com as medidas de austeridade e a «degradar-se muito mais do que outros setores da governação».

Às denúncias da Ordem, à ameaça de demissões no Hospital de São João e às denúncias de outros hospitais, a OM junta agora o «panorama terrível» traçado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde, num relatório a que chamou “síndrome da negação”, para demonstrar que o Ministério «já não pode continuar a esconder a dramática verdade do SNS».

As razões por detrás das acusações da ordem são várias, desde os tempos de espera dos utentes pelas cirurgias e consultas, à falta de medicamentos e material clínico nos hospitais, passando pelos aparelhos que não são reparados, a impossibilidade de os médicos pedirem os exames de diagnóstico que acham necessários, a impossibilidade de acesso dos doentes aos novos medicamentos ou a falta de dinheiro para pagar transportes.

A OM diz que há meses que procura negociar medidas, «quase sem sucesso», e dá como exemplo a portaria da reforma hospitalar que a tutela se «recusa a revogar» e que «ilustra a maior destruição do SNS desde a sua fundação».

O bastonário afirma-se mesmo «disponível para um debate público com o ministro da Saúde» e adianta que vai apresentar «múltiplas propostas de alteração» ao Código de Ética, que acusa de ser um instrumento «enviesado», através do qual o ministro quer «filtrar a informação».

A Ordem acrescenta ainda que irá dar sequência às medidas que já tinha anunciado, caso as negociações falhassem: continuar a insistir junto de médicos e doentes para comunicarem todas as falhas do SNS e apelar a todos os médicos que renunciem a qualquer tipo de contratualização «de indicadores doentios e que prejudicam a humanização da medicina».

A OM apela ainda a estes profissionais para que suspendam a colaboração com o Ministério da Saúde e com todos os organismos deste dependentes, assim como com quaisquer outros grupos de trabalho, e apoiem as formas de intervenção sindical decididas pela FNAM.