Médicos defendem adequação de numerus clausus para evitar formação deficiente 692

Médicos defendem adequação de numerus clausus para evitar formação deficiente

 


22 de maio de 2017

O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu ontem a adequação do numerus clausus para medicina «às capacidades formativas das escolas médicas, que têm atualmente centenas de estudantes em excesso, de que resulta uma formação clínica deficiente».

Miguel Guimarães pronunciou-se, desta forma, sobre o final do concurso de acesso a uma especialidade médica, o qual deixou de fora 347 médicos que não conseguiram ter acesso a uma especialidade por falta de vaga.

Segundo nota da Ordem dos Médicos, este organismo «apresentou o maior mapa de capacidades formativas de sempre (1.761 capacidades formativas)».

O bastonário considera que «a criação de um grupo de médicos sem especialidade é prejudicial para os médicos e suas famílias, que veem defraudadas as suas expectativas, para o Estado português, que investe milhões de euros na sua formação sem a devida continuidade, e para o sistema de saúde, que pode ser afetado pela diminuição da qualidade da Medicina com prejuízo para os doentes».

A Ordem dos Médicos manifesta-se «profundamente preocupada com esta situação e já o manifestou de forma reiterada aos ministros da saúde e da educação», lê-se na nota, citada pela “Lusa”.

Miguel Guimarães considera mesmo que «não é possível, com o capital humano e as condições de trabalho atuais, manter a qualidade da formação dos nossos jovens especialistas, uma das melhores a nível internacional, e simultaneamente conseguir vagas para todos os candidatos».

«É imperioso que se corrijam as deficiências existentes atualmente no Serviço Nacional de Saúde (SNS), quer em capital humano quer em estruturas físicas, equipamentos, materiais e dispositivos, e simultaneamente se melhorem as condições de trabalho», adianta Miguel Guimarães.

Para o bastonário, «a contratação dos médicos em falta no SNS permitiria aumentar de forma significativa as idoneidades e capacidades formativas e consequentemente o número de vagas».

«Atualmente, o SNS tem uma relação de menos de dois especialistas para um interno, o que demonstra de forma objetiva a completa saturação do sistema em termos de formação».

A Ordem defende ainda que o Ministério da Saúde crie «as condições necessárias, nomeadamente ao nível da carreira médica, para que seja possível aumentar a capacidade de formação no sector público e no sector privado».

Ontem, o ministro da Saúde anunciou na Comissão Parlamentar de Saúde a abertura do concurso para assistentes graduados seniores e consultores, classificação que a tutela acredita motivar os profissionais mais velhos e com maior formação para permanecerem no SNS.

Para o ministro, os concursos deverão ser abertos até setembro e deverão evitar «o que está a acontecer», que é a saída de médicos para o setor privado, as reformas e a emigração destes profissionais.

A medida deverá ter, segundo o governante, outra consequência: levar a Ordem dos Médicos a ponderar o alargamento das vagas para a sua especialização, tendo em conta que este ano voltaram a ser insuficientes, deixando de fora 347 jovens clínicos.