Médicos querem relação com doente classificada como Património da Humanidade 03 de Junho de 2016 Médicos de vários países querem que a relação entre o clínico e o paciente seja classificada como Património Imaterial da Humanidade, anunciou ontem, em Coimbra, o presidente do conselho geral da organização profissional dos médicos de Espanha. «Estamos a preparar um projeto de candidatura à classificação, pela UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura], da relação médico/doente como bem imaterial da Humanidade», disse Juan José Rodríguez Sendín durante uma conferência internacional de médicos. Sendín é presidente do conselho geral dos Colégios Oficiais dos Médicos espanhóis – Organización Medica Colegial de España (OMC) – entidade que equivale, de algum modo, à Ordem dos Médicos (OM) portuguesa e que reúne 52 associações profissionais daquele país. A relação do médico com o doente é «fundamental para os resultados em saúde», é «fundamental para o doente, que precisa de ter em quem possa confiar e depositar as suas angústias, os seus medos e as suas ansiedades» e é «fundamental para o médico, que tem de ter a confiança do paciente» para melhor diagnosticar e tratar, sublinhou Rodríguez Sendín, em declarações à agência “Lusa”, à margem do Fórum Ibero-americano de Entidades Médicas, que teve início hoje, num hotel de Coimbra, e que termina no sábado. Muitas doenças «não se tratam só com medicamentos» e estes podem, frequentemente, ser dispensados e «com melhores resultados para o doente» se houver aquela relação, sublinha o médico espanhol. Mas, adverte, a relação/médico está a «baixar a humanização» porque é cada vez menos o tempo disponível para as consultas, correndo mesmo «o perigo de se perder, com consequências terríveis» para os sistemas de saúde, salientou o dirigente da OMC. «O tempo é a base da relação médico/doente», defendeu, em declarações à agência “Lusa”, também à margem do fórum, o bastonário da OM, José Manuel Silva, que apoia também a candidatura daquela relação a Património Mundial. Sem tempo para «ouvir o doente e para lhe explicar as razões das decisões» dos clínicos, «não é possível construir uma relação saudável» entre o médico e o doente. «Perde-se a essência da medicina, que é o estabelecimento dessa relação de confiança», salienta o bastonário. «Sofremos da doença dos indicadores, em que se avalia a produtividade da medicina pela quantidade dos atos produzidos e não pela qualidade dos resultados desses atos», afirma José Manuel Silva, sublinhando que é preciso «dar tempo para que o médico recupere a boa medicina». A falta de tempo para as consultas médicas resulta de fatores «questões economicistas (e não económicas)», que «redundam em prejuízo», sustenta o bastonário da OM, recordando que o relatório da Fundação Gulkenkian sobre o SNS alertando para o facto de a perda de qualidade do ato médico ser «não só má para o doente, mas também para a economia». O projeto de candidatura da relação/médico doente a Património Imaterial, que conta com o apoio de médicos e organizações destes profissionais de alguns países, será apreciado pela assembleia geral da Confederação Médica Latino-Americana e do Caribe [ou Caraíbas] (CONFEMEL), que decorrerá, em final de novembro, em Brasília, Brasil, adiantou Rodríguez Sendín. A CONFEMEL é uma entidade não-governamental que reúne instituições médicas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Costa Rica, Guatemala, Haiti, Honduras, El Salvador, República Dominicana, Nicarágua, Panamá, Porto Rico, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai e, desde 2015, de Portugal e Espanha. |