O mercado dos medicamentos vendidos em farmácias reduziu cerca de 640 milhões de euros numa década, o que corresponde a uma queda de quase 23%, segundo um estudo que será hoje divulgado no Congresso Nacional da Distribuição Farmacêutica. A análise foi solicitada pela ADIFA, que se manifesta preocupada com «a sustentabilidade da cadeia de valor do medicamento».
Os dados do estudo extraídos pela consultora Deloitte indicam que entre 2008 e 2018 o mercado dos medicamentos vendidos em ambulatório decresceu em 642 milhões de euros, correspondendo a uma redução de 22,8%. Em termos de embalagens, tanto dos medicamentos sujeitos a receita como os de venda livre, em 2018 venderam-se menos 11 milhões de unidades do que em 2008, uma redução de 4%.
«O mercado atual de medicamentos [em ambulatório] é comparável ao mercado em 2003, evidenciando a forte queda registada desde 2008», aponta o estudo e a que a agência “Lusa” teve acesso.
O presidente da Associação de Distribuidores Farmacêuticos, Diogo Gouveia, anota que «a degradação do preço dos medicamentos coloca em risco o serviço público prestado pelos distribuidores farmacêuticos de serviço completo».
Num comunicado enviado pela Associação, Diogo Gouveia assegurou que a política de definição do preço dos medicamentos deve ser revista, sublinhando que Portugal tem dos fármacos «a preços mais baixos da Europa».
«Houve uma forte contração do mercado entre 2008 e 2014, por redução administrativa do preço dos medicamentos e por redução das margens de comercialização, e essa contração teve um forte impacto no setor da distribuição», afirmou o responsável numa entrevista à “Lusa”.
Para a Associação de Distribuidores esta «degradação do mercado» coloca em causa a sustentabilidade do setor e ameaça os «propósitos» que os distribuidores assumem como agentes de saúde pública.
Os distribuidores farmacêuticos de serviço completo defendem que desempenham um serviço de interesse público, já que asseguram diariamente o acesso ao medicamento, com fornecimento às farmácias de todo o país.
Além de medicamentos sujeitos a receita e dos de venda livre, os distribuidores também fornecem a farmácia toda a gama de outros produtos de saúde. O estudo revela ainda que o negócio dos distribuidores teria «rentabilidade negativa» se dependesse exclusivamente dos medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM).
«Conclui-se que cumprindo o seu dever de serviço público apenas com o abastecimento de MSRM, a sustentabilidade da distribuição farmacêutica estaria comprometida no longo prazo», menciona o documento, a que a fonte teve acesso.
Além da revisão dos preços dos medicamentos e da sua fórmula de cálculo, a Associação dos Distribuidores Farmacêuticos sugere como medida fundamental para o setor a passagem para as farmácias de mais medicamentos até agora exclusivos para uso hospitalar.
Diogo Gouveia dá o exemplo do projeto em curso de dispensa de medicamentos hospitalares para a infeção por VIH nas farmácias comunitárias, entendendo que pode ser alargado a outros fármacos. «É uma oportunidade para o futuro a transferência de medicamentos do canal hospitalar para o canal de ambulatório», faz a sugestão.
O estudo que hoje será apresentado veio ainda revelar que os distribuidores farmacêuticos têm uma margem líquida de 1,8% do preço final de venda ao público.