Minorias de género têm condições de saúde piores do que a população em geral, garante investigadora 337

A investigadora Ana Macedo advertiu esta quarta-feira que as pessoas de minorias sexuais e de género têm condições de saúde piores do que a população em geral devido a fatores como o medo ou a discriminação, que dificultam o acesso aos cuidados de saúde.

“As pessoas de grupos minoritários, nomeadamente minorias sexuais e de género [que se identificam como sendo LGBTQIA+ – lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexo, assexuais e outros], têm condições de saúde piores do que as pessoas que não fazem parte destes grupos, nomeadamente de situações que seriam evitáveis”, disse à agência Lusa a investigadora do Algarve Biomedical Center e docente da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve.

A investigadora adiantou que esta situação, segundo a informação que existe e “é muito escassa”, deve-se sobretudo a dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, mas ressalvou: “Não é que as pessoas não possam ir lá”, mas sentem medo de não serem entendidas ou de serem discriminadas nos cuidados de saúde.

Ana Macedo tem vindo a trabalhar neste tema nos últimos anos e conduz um projeto que tem como principal objetivo contribuir para a melhoria do estado de saúde e equidade de pessoas pertencentes a minorias sexuais e de género que vai apresentar no “Congresso Saúde Pública 23 – Uma nova era” que decorre na quinta e na sexta-feira, em Lisboa.

“Estamos a fazer vários estudos, um dos quais com os profissionais da área da saúde pública”, disse, adiantando que os investigadores estão a tentar fazer um diagnóstico da situação em Portugal.

Os cientistas querem tentar perceber o que os profissionais que trabalham na área da saúde em diferentes segmentos e os estudantes de Medicina sabem sobre especificidades em saúde de pessoas LGBTQIA+ e, estando dentro do sistema, se percecionam se existe ou não discriminação nos cuidados de saúde.

Ana Macedo adiantou que o estudo permitirá perceber se os profissionais de saúde e os estudantes de Medicina necessitam ou não de mais informação ou formação sobre este tema, uma vez que os poucos relatórios que vão sendo divulgados apontam que “sabem pouco” sobre este tema, porque “nos cursos esta matéria praticamente não é lecionada”.

As grandes escolas médicas na Europa e nos Estados Unidos já obrigaram que este tema fosse incluído nos currículos porque, disse, “há aspetos que são particulares da saúde destas pessoas”.

“Não é tudo igual, ou seja, a equidade não é pela igualdade. Nós temos de perceber as diferenças e só podemos perceber se alguém a certa altura nos ensinar”, defendeu, referindo que esta falta de conhecimento leva a que os profissionais tenham “imensas dificuldades de comunicação, porque se reservam, não perguntam”.

Por outro lado, acrescentou, os utentes que recorrem aos serviços de saúde “também não se sentem à vontade muitas vezes para se expor, porque não sabem o que é que vem do lado de lá” e outras vezes há “situações mais graves em que as pessoas são claramente discriminadas”, existindo “uma má utilização da linguagem”.

“Às vezes estamos a falar de microagressões. É o pequeno erro de linguagem, o assumir-se logo aquilo que se chama a heteronormatividade”, disse Ana Macedo, exemplificando que quando se pergunta a um homem como está a mulher não se pensa que pode ser casado com um homem: “É este tipo de pequenina coisa que constitui uma agressão para quem está do outro lado e que muitas vezes o profissional de saúde nem percebe”.

Ana Macedo ressalvou, contudo, que situações de discriminação propositadas são “uma situação relativamente rara”.

Segundo a investigadora, estes estudos também servem para sensibilizar os profissionais, que só por preencherem o inquérito “já ficam mais sensíveis para a questão”, porque se questionam: “nunca tinha pensado nisto”.

Depois do estudo realizado, o objetivo é fazer ações no terreno. “A ideia é que se consiga fazer uma coisa de âmbito mais geral e chegar aos profissionais de saúde”, em linha com os objetivos da Direção-Geral de Saúde e da União Europeia, que prevê no seu último plano sobre este tema que haja formação para todos os profissionais de saúde nesta área.