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Misericórdias apoiam 150 mil pessoas por dia
27-Maio-2014

As 397 santas casas têm mais de metade das camas de cuidados continuados do país e prepararam-se para receber os três primeiros hospitais do SNS.

As misericórdias atravessaram incólumes os últimos anos de crise económica. Apesar das persistentes queixas de falta de dinheiro, nenhuma fechou e o número de funcionários até aumentou. Atualmente são cerca de «75 mil» os colaboradores que prestam apoio a um universo da ordem das «150 mil pessoas por dia», desde idosos em lares, crianças em creches, pessoas com deficiência e programas de apoio alimentar, como cantinas sociais. São dados do primeiro inquérito feito pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e que vão ser apresentados esta semana no XI Congresso Nacional das Misericórdias, em Évora. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, preside à sessão de abertura.

«O número de pessoas que apoiamos e acolhemos aumentou de forma significativa e sustentada. O caso mais evidente é o das cantinas sociais. Também as unidades de cuidados continuados cresceram ao ritmo de 10 a 12 por ano», adianta Manuel Lemos, presidente da UMP, que não consegue especificar a proporção do acréscimo porque este tipo de recolha de informação nunca tinha sido feito. «Até agora era tudo conversa», diz.

Como é que foi possível aumentar a capacidade de resposta numa altura em que, segundo os responsáveis das misericórdias e o próprio presidente da UMP, a situação financeira piorou, devido às dificuldades de muitas pessoas pagarem as comparticipações, sobretudo nos lares. «As instituições não estão a viver muito bem neste momento de crise, mas não mandaram ninguém embora, nem nenhuma fechou», retorque Manuel Lemos, que reconhece que, para equilibrar a situação, foram importantes as «linhas de crédito» entretanto criadas pelo Governo.

O mais difícil é perceber quanto dinheiro recebem estas instituições do Estado. Manuel Lemos não adiantou números. Não há dados atualizados, mas uma pesquisa às subvenções públicas realizadas no ano passado pelo “Público” permitiu concluir que, em 2011, no grupo das instituições da chamada economia social, as misericórdias tinham sido o maior beneficiário do Instituto da Segurança Social, com 306,9 milhões de euros.

No congresso, que decorre entre quinta-feira e sábado e que vai contar com uma forte presença brasileira (neste país há mais de duas mil santas casas),a UMP vai assim poder, pela primeira vez, apresentar números rigorosos. Os dados são reveladores: as 397 santas casas de misericórdia do país dão apoio a mais de 58 mil idosos, a maior parte dos quais (28.173) em lares (501), 17.501 através de apoio domiciliário (420 serviços) e mais de 9300 em 359 centros de dia.

São também muitas as crianças nas valências das misericórdias (42.331) distribuídas por 315 creches (mais de 15 mil) e quase 17 mil no pré-escolar. As misericórdias até têm duas escolas primárias e dão ainda apoio a 1708 crianças e jovens em risco (29 centros de acolhimento temporário e 39 lares de infância e juventude).

Uma área em que a resposta aumentou substancialmente nos últimos anos foi a das cantinas sociais. As 140 cantinas sociais dão atualmente resposta a 9.131 pessoas e há ainda 14.811 indivíduos a beneficiar de «programas alimentares». As santas casas apoiam igualmente 2.763 pessoas com deficiência, em centros de atividades ocupacionais e lares residenciais.

Além da ação social, estão a conquistar cada vez mais terreno na área da saúde. Manuel Lemos garante que está «para breve» a entrega dos três primeiros hospitais do Serviço Nacional de Saúde (Fafe, Anadia e Serpa), apesar da contestação dos partidos da oposição e de vários operadores, como a Associação Portuguesa da Hospitalização Privada. «Da nossa parte está tudo pronto. Vamos fazer mais com menos 25% [de gasto]», assegura.

Mas as santas casas possuem já mais de metade das camas da rede de cuidados continuados do país (3.433), uma capacidade que esperam ver reforçada até ao final do ano, com a abertura de mais dez unidades. «Das 18 unidades que continuam por abrir, esperamos que dez comecem a funcionar este ano», antecipa Manuel Lemos.

Além disso, têm 22 hospitais onde fizeram no ano passado quase 267 mil atendimentos em serviços de urgência, perto de 44 mil cirurgias e 710 mil consultas. Estes valores não incluem outras áreas de atuação como a medicina física e de reabilitação e os tratamentos de diálise.

O universo das misericórdias é, porém, muito mais vasto. Além de mais de mil imóveis, têm 250 arquivos, 50 museus, 17 teatros e ainda 26 praças de touros.