A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou, esta quinta-feira, para a possibilidade de serem detetados outros casos importados de mpox – anteriormente conhecida como varíola dos macacos- na Europa, depois de ter sido registado na Suécia o primeiro caso de uma variante mais contagiosa e perigosa da doença.
Casos em África
Esta variante já provocou pelo menos 548 mortos desde o início do ano na República Democrática do Congo (RDC), o país mais atingido, e a OMS considera “provável que outros casos importados sejam registados na região europeia durante os próximos dias e semanas”, declarou a secção europeia da organização em comunicado, citada pela Lusa.
Na quarta-feira, a organização ativou o seu nível de alerta internacional mais elevado em resposta ao ressurgimento de casos de mpox no continente africano.
Um total de 38.465 casos desta doença foram registados em 16 países africanos desde janeiro de 2022, com 1.456 mortes, incluindo um aumento de 160% no número de casos em 2024 em comparação com o ano anterior, de acordo com dados publicados na semana passada pela agência de saúde da União Africana.
Caso na Suécia
Na quinta-feira, a Agência Sueca de Saúde Pública anunciou que uma pessoa que vivia na região de Estocolmo tinha sido diagnosticada como portadora do subtipo mais contagioso e perigoso do vírus mpox, um caso inédito fora de África.
“A pessoa afetada foi infetada durante uma estadia numa região de África onde existe uma grande epidemia de mpox subtipo clade 1”, explicou Olivia Wigzell, chefe interina da agência sueca, durante uma conferência de imprensa.
Num comunicado de imprensa, a agência sueca disse que o facto de “uma pessoa estar a ser tratada para a varíola no país não implica qualquer risco para o resto da população”, e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) considera que atualmente este risco é muito baixo.
A agência disse à AFP que o caso na Suécia se tratava da variante mpox do subtipo clade 1b, que tem vindo a reemergir na RDC desde setembro de 2023, e onde todas as províncias são agora afetadas pela epidemia.
Considerações da OMS
Para a OMS, “é imperativo” não estigmatizar os viajantes ou os países/regiões: “Só trabalhando em conjunto, partilhando dados e tomando as medidas de saúde pública necessárias é que podemos controlar a propagação deste vírus”, considerando crucial evitar restrições às viagens e o encerramento de fronteiras.
De acordo com uma declaração emitida pelo Departamento de Saúde dos EUA na quarta-feira, “a vacinação será uma parte essencial da resposta a esta epidemia”, e para apoiar este esforço, “os Estados Unidos estão a doar 50.000 doses da vacina Jynneos, aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), à RDC”.
A empresa farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, cujas ações subiram na bolsa na quinta-feira, disse estar pronta para produzir até 10 milhões de doses de vacina até 2025.
A atual epidemia, que teve origem na RDC, tem características específicas, a começar por um vírus mais contagioso e perigoso. É causada pelo clade 1 e por uma variante ainda mais perigosa, o clade 1b, com uma taxa de mortalidade estimada em 3,6%.
O clado 1b provoca erupções cutâneas em todo o corpo, mais visíveis, ao passo que as estirpes anteriores se caracterizavam por erupções e lesões localizadas na boca, na face ou nos órgãos genitais.
Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, um alerta que foi inicialmente levantado em maio do ano passado, depois de a sua propagação ter sido contida e a situação ter sido considerada sob controlo.
A nova variante pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, incluindo contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.
Em 2022, uma epidemia mundial propagou-se a uma centena de países onde a doença não era endémica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais. A epidemia causou cerca de 140 mortos, num total estimado de 90.000 casos.
Antes disso, a doença foi sobretudo detetada em surtos ocasionais na África central e ocidental quando as pessoas entravam em contacto com animais selvagens infetados.
Os países ocidentais contiveram o surto e a disseminação do vírus com a ajuda de vacinas e tratamento aos quais África praticamente não tem acesso.