Na Alemanha, a respirar a história de Vicks VapoRub 1380

A FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO esteve recentemente na Rua Procter & Gamble, em Gross Gerau, perto de Frankfurt, na Alemanha. O nome da rua não engana: a fábrica da marca, que contém um já mítico e mais recente edifício azul visível de bem longe, de uma clássica autobahn (autoestrada) alemã, está lá desde os anos 60. É, inclusivamente, a maior produtora do conhecido Vicks VapoRub fora dos Estados Unidos da América, fornecendo atualmente 45 países dos cinco continentes.

E foi precisamente num evento Media Day da Vicks VapoRub que estivemos presentes, tendo sido recebidos num espaço bem decorado para a temática do dia, onde havia, inclusivamente, bem protegido, um frasco de um Vicks VapoRub com mais de 100 anos. Este dia consistiu numa manhã de apresentações e uma tarde que incluiu uma visita à fábrica, mas somente à parte que dizia respeito a esta marca, pois muitas outras são produzidas naquele espaço, como é o caso da Oral B.

Fadel Zaidan, personal healthcare communications director da Procter & Gamble, recebeu a comitiva de jornalistas de toda a Europa e destacou a «enorme pegada geográfica» que a empresa tem em todo o mundo, «onde toca e melhora a vida das mais de 550 milhões de pessoas».

«Temos um portfólio amplo, que abrange muitos produtos que os nossos consumidores utilizam na sua vida diária. E isto vai desde o consumo infantil à saúde respiratória, bem-estar digestivo, suplementação e energia. Vocês [jornalistas] reconhecem a maioria das nossas marcas, mas precisam de saber que servimos os consumidores em todas as etapas das suas vidas, com o nosso mais de um século de inovação de produtos e marcas que os servem», frisou, acrescentando que a «inovação», «compreensão profunda do consumidor» e a «cadeia de abastecimento» da Procter & Gamble deixa-a muito bem colocada num mercado que «representa mais de 320 mil milhões de euros de vendas líquidas anuais».

Christian Meyer, value stream leader na fábrica, que é, como o próprio explicou, «uma espécie de chefe de produção», conduziu, de seguida, os trabalhos, tendo assinalado o ano de construção da fábrica (1964), e que, dada a importância da Vicks naquela zona – visto que apenas em 1985 a Procter & Gamble adquiriu a marca -, ainda «muita gente diz que trabalha para a Vicks». O responsável salientou por diversas vezes, na apresentação e durante a tarde, na visita à fábrica, o poder da modernização, da tecnologia e da digitalização na empresa e naquele local, bem como as «linhas de produção de alta velocidade».

Com produção de segunda a sábado, durante as 24 horas do dia, Christian Meyer fez questão de referir a sustentabilidade, mas também a igualdade e diversidade dentro da fábrica, que conta com 550 trabalhadores, sendo que 19% são mulheres e de 37 nacionalidades diferentes. Existem ainda 27 pessoas num sistema de apprenticeship.

Posteriormente, o brand director Franc Kroburi abordou a história inicial do Vicks Vaporub, sob o mote “Património e Equidade da Marca Vicks”. Segundo o responsável, trata-se do produto OTC mais antigo do mundo e foi registado, pela primeira vez, em 1894, tendo quase 130 anos de história.

Farmacêutico cria produto para ajudar o filho

E o produto advém de uma história familiar e caseira. Tudo começou com o fundador, Lunsford Richardson, um farmacêutico da cidade mercantil de Greenboro, na Carolina do Norte, EUA. Na década de 1890, devido à comunidade a que pertencia, mas principalmente devido ao filho, resolveu tomar medidas pelas próprias mãos e conhecimento. «Ele [Lunsford Richardson] ser farmacêutico é uma característica muito interessante na história da Vicks. E a razão pela qual ele inventou este produto foi precisamente o seu filho, que estava frequentemente com tosse e doente», explicou Kroburi. Nascia assim o produto cujas substâncias ativas mais poderosas, de acordo com a marca, são o mentol, a cânfora, o óleo de eucalipto e o óleo de terebintina.

«O fundador criou 21 produtos e um deles foi o Vicks Group Pneumonia Salve», denominado Vicks VapoRub no século XX, por ser «o único produto verdadeiramente único da linha Vicks», nas palavras de Smith Richardson, filho do fundador que, em 1911, foi nomeado diretor de vendas.

«Esta criação carinhosa de um produto de pai para filho perpetua-se, não só na nossa publicidade, como é a alma e o cerne da marca, que tem tido sucesso ao longo de gerações», prosseguiu Franc Kroburi, na sua apresentação na fábrica da Procter & Gamble. Referiu ainda que «na filosofia da Vicks, o alívio dos sintomas é muito importante, mas quando as pessoas estão doentes, há também uma componente emocional e outra sensorial». «Tentamos acrescentar aos nossos produtos não só a eficácia, mas também dar-lhes um pouco de alma, um aspeto de cuidado que deve estar sempre presente», reforçou.

Tratando-se de um produto «para aliviar mais do que um sintoma, quando existe uma gripe ou constipação, para a congestão nasal, tosse e prevenção», existe mesmo, segundo o responsável, a tal «componente sensorial em toda a gama de produtos», não só do Vicks VapoRub, o que «nos ajudou a ser a marca nº 1 do mundo para gripes em constipações».

Moléculas chave e parafina

Presente em 71 países dos cinco continentes, o produto que no ano passado «vendeu 20 milhões de frascos só na Europa, naquele que foi o ano com mais vendas de sempre» é, de acordo com Franc Kroburi «um resultado ótimo e estamos felizes com isso. Continuamos a crescer de ano para ano e a chegar a mais consumidores, que apreciam a eficácia e ajuda que o Vicks VapoRub lhes oferece a cada ano», disse, antes de reforçar e finalizar: «Acredito que a forma como a marca nasceu realmente influenciou a sua evolução e o seu verdadeiro significado».

Seguiu-se Mitch Dowding, research & development scientist, que falou sobre os mecanismos de ação do produto e a ciência por detrás deste produto. «Como o VapoRub é considerado um produto medicinal, os vapores são também medicinais. O que significa que os ingredientes farmacêuticos ativos trazem consigo determinadas moléculas-chave que têm atividade farmacológica real no corpo. Mas não estão sozinhas no produto, estão suspensas em parafina branca. que desempenha um papel crucial». E que papel crucial é esse? A parafina permite que o produto seja «aplicado uniformemente pelo corpo», tornando-se «fundamental para manter as moléculas e permitir que estas se tornem voláteis, à medida que o calor do corpo eleva a parafina para os 36/37 graus e facilita a inalação dos vapores».

A parafina não é feita para atuar na pele, mas para «permanecer nela por longos períodos de tempo, para que a inalação possa continuar». Já no que respeita aos benefícios, «gostamos de dizer que o VicksVaporub alivia a maioria dos sintomas incómodos da gripe que pioram à noite, ajudando os pacientes a dormir», referindo-se a estudos que determinam existir uma deterioração de sintomas precisamente à noite. Mas também trouxe números para a apresentação: o nariz fica desbloqueado em 62 segundos e a tosse fica mais aliviada em 15 minutos.

Mitch Dowding explicou ainda que, devido aos materiais usados, o facto de uma se pessoa se mexer durante o sono não danifica as aplicações, antes pelo contrário: renova-as, cada vez que uma pessoa se mexe, para que reexista libertação de vapores.

Seguiram-se apresentações mais técnicas e científicas do professor Andrew Smith, professor e diretor do Centro de Psicologia Ocupacional e de Saúde da Universidade de Cardiff, e ainda de Laura Sadofsky, uma das investigadoras principais no Centro de Biomedicina da Faculdade de Medicina de Hull York.

Um tanque de 4 mil litros

Após o almoço, aconteceu a prometida visita por turnos à fábrica, com todas as medidas de segurança que Christian Meyer tinha assegurado de manhã que teríamos de usar. Foi assim possível observar o tanque de 4 mil litros onde são adicionados, de forma meticulosa, todos os ingredientes do Vicks VapoRub.

E, afinal, quais as quantidades que são produzidas? «Não estou autorizado a dizer, mas estava mais ou menos preparado para essa pergunta», sorriu, dizendo apenas que daquele tanque seriam precisas quatro horas e meia para produzir os quatro mil litros e que a fábrica funciona no tal regime 24/6, com três pessoas por turno.

Chegados à parte do packing, deparámo-nos com um sistema altamente automatizado, incluindo um braço robótico que não passou despercebido pela forma “humana” com que operava com as caixas de cartão.

Após a visita, falámos com o anfitrião matinal Fadel Zaidan e tentámos perceber, mediante as diversas referências feitas durante o dia que o Vicks VapoRub não tem contraindicações para ser usado com outros medicamentos, se o produto é a cereja no topo de um bolo ou o próprio bolo em si. O responsável sorriu e respondeu: «devem sempre começar com o Vicks VapoRub. Porquê? Há uma razão clara. Quando começam a sentir os sintomas de constipação, e os sintomas de constipação são realmente específicos para cada paciente, vocês, eu, todos temos maneiras diferentes de experienciar os sintomas de constipação… adicionar o Vicks VapoRub é um alívio de cuidados primários porque cada respiração é um vapor terapêutico. Ele atua nas vias aéreas, proporciona esta sensação de alívio multi sintomas a partir do exterior. Depois, podem adaptar, com base na gravidade dos sintomas, como se desenvolvem. VapoRub é multi sintomas, atua realmente nas vias aéreas, proporcionando este benefício extra que nenhum outro medicamento, sem benefício sistémico, pode fornecer. Portanto, comecem sempre com o Vaporub e adicionem o que mais precisarem».

Artigo publicado originalmente na Farmácia Distribuição #369, outubro 2023.