Ana Paula Martins, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte e ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, fez uma radiografia do estado da arte da profissão, em declarações ao Netfarma, à margem da apresentação do Stada Health Report 2023, nesta terça-feira (02), em Oeiras.
As greves inéditas do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, aliadas a mais de 160 escusas de responsabilidade por todo o país, marcam a luta do setor em prol de melhores condições laborais. Ana Paula Martins, que admite também existirem escusas pedidas no seu hospital, considera que a “sobrecarga de trabalho é elevada”, maior ainda por causa da forma como “os processos estão organizados”. A gestão hospitalar tem de mudar, diz.
“Estamos a recrutar cada vez mais recursos humanos jovens, qualificados, diferenciados, para projetos de vida que de si próprios já são pouco atrativos”, explica, justificando a situação não apenas com a “organização do trabalho, mas com a falta de ferramentas a nível digital, estamos muito atrasados”. “Nós não formamos a geração mais qualificada de sempre para depois a colocarmos a trabalhar em modelos do século XX”, continua. Tudo isto “afugenta” os jovens, pelo que a necessidade deverá ser a de “transformar” as organizações.
Residentes devem ser protegidos
No primeiro ano da Residência Farmacêutica, que o seu Centro Hospitalar “muito acarinha”, alguns formandos encontraram entraves pelo país, como noticiou o Netfarma em maio. Ana Paula Martins admite que poderá ser necessária uma revisitação, por parte dos diretores de serviço, dos modelos de organização, mas também “alguma proteção destes quadros, no sentido de garantir que fazem o seu percurso formativo”.
Caso contrário, “as pessoas terminam as suas residências e não querem ficar”. A responsável reitera que, num hospital, são os diretores de serviço quem, hierarquicamente, definem a organização dos serviços, mas que os casos suspeitos devem ser analisados pela Comissão responsável pela Residência. “No nosso hospital, fazemos tudo aquilo que podemos para ajudar os diretores de serviço a construir um processo positivo para os internos (médicos) e para os residentes (farmacêuticos), não tenho nenhuma dúvida”, assegura.
“População escolhe” vacinar-se na Farmácia
O arranque da vacinação contra a covid-19 nas Farmácias Comunitárias, criticado pela Ordem dos Enfermeiros, foi também motivo de questão à ex-bastonária dos Farmacêuticos. “Sempre fui sensível às críticas dos órgãos dos enfermeiros, temos de respeitar a posição de cada um dos órgãos e cada um dos grupos profissionais”, considera. Contudo, “os farmacêuticos vacinam em todo o mundo e têm essa competência reconhecida pelo Ministério da Saúde”, diz, ao lembrar que vários enfermeiros colaboram com as Farmácias.
Nas últimas décadas, “as Farmácias já comprovaram grande capacidade, pela sua capilaridade e disponibilidade de 24 horas, para colaborar neste esforço vacinal”, uma possibilidade reforçada pela pandemia. A população “toma a última decisão, porque a população escolhe fazer essa vacinação [na Farmácia], mais do que legítima”.