
Letra incontornável da música A Paixão (Segundo Nicolau da Viola), do álbum Mingos & Os Samurais, início da década de 90. Uma (se não a mais, pelo menos a nível nacional) icónica colaboração entre um letrista e um músico (Carlos Tê/Rui Veloso).
Perguntam, com razão, onde quero chegar com isto? Será que me enganei e agora comecei a escrever para a Blitz? Tranquilos, nem a Blitz quer nem eu sei o suficiente de música para poder fazer isso.
Algumas estruturas empresariais têm características interessantes e/ou peculiares: Umas parecem reuniões de uma seita acabada de formar, na qual o fervor do sentimento de pertença está tão visível quanto os radares fixos de velocidade na cidade de Lisboa. Já outras, estão tão desorganizadas e/ou desalinhadas que mais parecem uma equipa de disléxicos numa prova de leitura. Quando questionados relativamente a qual das culturas ou ambientes preferem, a maioria responde a seita. Poucos querem fazer parte de um clube de leitura de disléxicos. Na realidade estão ambos errados, a única coisa que muda é o timing em que o constatam. No conceito seita, a curto/médio prazo perdem o espirito critico e a inovação. Já na equipa de disléxicos, perdem a organização e o alinhamento com relativa brevidade.
Das melhores coisas que fiz na vida foi ter tido a oportunidade de trabalhar em consultoria. Para lá dos P&L da vida empresarial, dá-nos a possibilidade de olhar para as várias estruturas, com os olhos críticos de quem lá não trabalha, mas que entende as dores e oportunidades, fruto de já ter pertencido a algumas. Constatei o que já sabia, ou seja, invariavelmente, o que os vários líderes de empresas e equipas que conheci querem (uns mais do que outros) é ter as equipas alinhadas. Aquele “Eh pá, pode contar-se com o Manel para tudo, gajo fantástico e que implementa sem misericórdia! ”….por oposição ao “Fogo, esse Manel é sempre o mesmo, nunca está satisfeito com nada e estraga-me as reuniões todas!” é um clássico!
Ainda temos outras situações curiosas que são as romarias às novas lideranças (ou às antigas, caso a cultura de empresa assim se viva). Aqueles cigarros fumados ou cafés tomados na companhia das chefias que nada mais são do que um esforço por dizer: “Eh pá, eu estou contigo, entendes?”, ou o clássico “Aquele gajo não vai ser feliz aqui, mas eu sou um salvador(a) da pátria e vou alinhá-lo!”. Se falássemos de Andebol, este elemento seria o pivot. Se falarmos de cultura empresarial e se os valores deste colaborador não forem os melhores, trata-se do elemento mais perigoso da empresa. É alguém que navega por mares agitados e com muito vento, mas que utiliza os restantes para alinhar as suas velas.
Mas porque é que “não se ama alguém que não ouve a mesma canção” em ambiente empresarial? Basicamente porque as lideranças são, por vezes, sofríveis. Uma parte importante não passou por um apertado crivo de seleção e as suas escolhas foram baseadas numa palavra que está agora na moda: perceção!
Perceção de que alguém pode ser líder. Porquê? Porque sim.
Liderar é saber que nem sempre se ouve a mesma canção e que a riqueza de uma estratégia é tão maior quanto a diversidade não de ritmos ou músicas, mas sim de músicos. Imaginem uma orquestra, na qual o maestro não sabe tocar todos os instrumentos, mas respeita a individualidade de cada músico e lhe reconhece capacidade para interpretar uma pauta.
Não se chega a maestro porque se quer. Chega-se porque se aprende, na maioria das vezes com os erros! Ter dois braços e uma batuta não faz de nós maestros. Por outro lado, ter uma guitarra ou um violino em casa não faz de nós músicos.
Sempre que penso em liderança vem-me sempre à mente o Principio de Peter: Num sistema hierárquico, todo o colaborador tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência. Mas isso deixarei para outra crónica!
João Carlos Serra Commercial Operations Director & Senior Healthcare Consultant HCO, Industry Investors and Pharma