Nobel da Química: participação é palavra-chave da Medicina 503

Nobel da Química: participação é palavra-chave da Medicina

01 de dezembro de 2014

O prémio Nobel da Química em 2004, Aaron Ciechanover, disse, na noite de sábado, no Porto, que a palavra-chave da Medicina do futuro é a participação, referindo-se ao crescente envolvimento do paciente no processo de decisão.

Numa sessão sob o título de “Todas as doenças terão cura no futuro?”, no âmbito do Fórum do Futuro e perante um quase cheio grande auditório do Rivoli Teatro Municipal, Ciechanover afirmou acreditar que o futuro da Medicina vai passar por uma maior personalização do processo, em que os remédios a aplicar serão talhados à medida do paciente, uma vez analisado o seu genoma, estabelecendo-se uma«Medicina dos quatro P: personalizada, preditiva, preventiva e participatória».

De acordo com informação divulgada pela “Lusa”, o Nobel da Química usou como exemplo de participação o caso da atriz Angelina Jolie, que, em maio do ano passado, decidiu remover os dois seios de forma «preventiva» (adjetivo que a também ativista usou num artigo publicado no “New York Times” na altura) para minimizar os riscos de vir a desenvolver cancro, devido às possibilidades de tal acontecer face a um histórico familiar que apontava para 87% de hipóteses.

No entanto, quer o diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), Sobrinho Simões, quer o professor universitário Alexandre Quintanilha questionaram tanto o lado participativo como a possibilidade de se expandir de tal maneira as escolhas genéticas que estas cheguem a, por exemplo, embriões.

Aaron Ciechanover frisou que «dentro de quatro ou cinco anos [vai ser possível] cortar um gene e colocar outro no seu lugar» e admitiu a possibilidade de dois pais virem a poder escolher as formas de um filho, como o aspeto físico, mas também referindo várias vezes situações como deficiências mentais.

«Estou a falar de escolher que características queremos ver nos nossos filhos e as que não queremos», afirmou o Nobel da Química, que realçou que «a ciência vai mudar-nos, incluindo a forma como uma família é constituída».

Ciechanover fez questão de destacar: «Não somos os nazis», acrescentando que ter pessoas com problemas físicos no espaço público torna a sociedade numa «sociedade melhor» e sublinhando crer que os cientistas estão a trabalhar com boas intenções.

Sobrinho Simões, que em diversas ocasiões afirmou que Ciechanover estava a «assustar» o público com as múltiplas possibilidades do uso de estudos genéticos, encerrou a sessão com um apelo para que as pessoas se concentrassem em dois elementos: «educação e trabalho», ou seja, «esqueçam os genes».