Maria Rita Fonseca, aluna do quinto ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, na Universidade de Lisboa, é a nova presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF). Aos 23 anos, e prestes a começar agora o seu estágio curricular, a recém eleita responsável pela federação falou em exclusivo ao Netfarma, não só sobre o seu percurso, como também acerca dos objetivos da APEF para os próximos tempos, não fugindo aos temas mais prementes e atuais do universo farmacêutico.
Questionada acerca do seu futuro próximo e dos seus desejos profissionais, Maria Rita Fonseca admitiu gostar da área da farmácia hospitalar, “dado ter tanto a parte regulamentar e de gestão de recursos dentro do próprio hospital, como também a vertente de interação com os utentes”. Por isso, a estudante considera estas duas “valências bastante interessantes a nível de dinâmica”.
Apesar de ser agora presidente da APEF e demonstrar verdadeiro e genuíno interesse pelo associativismo, esta é uma paixão recente, “que despertou há cerca de três anos”. “Quando entrei no curso, não conhecia este mundo do associativo. Pouco depois, começou a pandemia, o que acabou por dificultar um pouco de tudo o que envolva o associativismo, e mesmo envolvermo-nos nele. Depois, comecei como colaboradora da Comissão Organizadora do Congresso Nacional dos Estudantes de Farmácia e, aqui, despertou o interesse em trabalhar com outros colegas, tendo em vista dinamizar algo que pudesse ser para todos”, acrescentou.
Depois de passar, no mandato anterior, pelos órgãos sociais da APEF, primeiro na direção do Departamento de Formação e Ensino, e depois como vice-presidente para os Assuntos Políticos, acabou mesmo por chegar a presidente após convite. Garante que, durante este percurso, adquiriu o “gosto por estar dentro dos assuntos, gerir a equipa e o cargo a nível político e de representação, junto dos stakeholders”.
Sobre os principais objetivos do seu mandato, Maria Rita Fonseca assume ter três grandes bandeiras: capacitação, estratégia e intervenção política. “Capacitação, não só dos próprios dirigentes da APEF, de modo a podermos desempenhar o nosso papel com a melhor das qualidades e oferecer oportunidades de excelência aos nossos estudantes, como também, posteriormente, a capacitação dos próprios estudantes, naqueles que são os nossos âmbitos de ação”, acrescentou.
Relativamente ao assunto estratégia, a responsável frisou que é um ano de “restruturação da APEF e a revisão de regulamentos acaba por fortalecer imenso as bases da federação e garantir cada vez mais a sua progressão”. “Sobre a intervenção política, nós, como federação, temos um âmbito político muito forte. Gostaríamos de reforçar ainda mais esta vertente, incluindo a política no nosso dia-a-dia e, posteriormente, na rotina dos estudantes, e partilhar aquilo que é o nosso trabalho e os resultados do mesmo”, disse.
Assumindo agora a liderança do movimento estudantil farmacêutico, importava perceber qual a avaliação que Maria Rita Fonseca faz da atualidade dos jovens que frequentam o ensino superior e quais as suas preocupações atuais. Sobre isso, referiu que “o ensino acaba por ser o mais premente para os estudantes, porque se sente uma desatualização”. “Nós evoluímos, a profissão evoluiu, mas a academia permaneceu estanque. E quando existe alguma evolução é muito pontual. Os estudantes notam muito que é necessária uma atualização da academia, para metodologias mais adaptadas àquela que é a nossa realidade, nomeadamente a nível de transição digital. A nossa realidade é digital e é preciso uma atualização, para que os estudantes consigam sair do curso aptos e capacitados para qualquer uma das vertentes que depois decidam integram”, referiu, sem esquecer que “a questão da retenção de talento jovem, que é algo bastante preocupante”. “Notamos que os jovens, na sua grande maioria, ponderam emigrar, e é preciso garantir que, em Portugal, existem condições para que eles queiram exercer, permanecer e consigam ter as oportunidades que teriam lá fora”, esclareceu.
O início do ano de 2024 marca o primeiro aniversário da Residência Farmacêutica, bem como o arranque da segunda edição do programa formativo, pelo que a recém eleita presidente da APEF confessou a preocupação sobre o futuro. “Daqui a uns anos, muitas pessoas vão acabar a Residência, ou seja, é expectável que tenham uma vaga para integrar e trabalhar no SNS, idealmente no hospital ou instituição onde façam a Residência. Vemos isto com alguma preocupação, porque se já é complicado agora, é importante garantir que estes residentes vão ter lugar para exercer a sua profissão no Serviço Nacional de Saúde”, disse, reforçando já ter conversado com Associação Portuguesa de Farmacêuticos Residentes e que “estão a ser feitas melhorias”. Sobre o assunto Residência Farmacêutica, Maria Rita Fonseca declarou ainda: “Notamos ainda que a nível da academia poderia ser feito algo mais, como oferecer a quem pretenda integrar a Residência Farmacêutica a oportunidade de trabalhar com a academia, para preparar o estudante”.
Sobre toda a polémica em torno dos estatutos das Associações Públicas Profissionais, a responsável da APEF adjetivou o processo de “tortuoso, com alto e baixos e de tempo escasso”. “Já foi dito que, no futuro, os estatutos [da Ordem dos Farmacêuticos] carecem de nova revisão, pelo que acredito que nos próximos anos acontecerão coisas que possam ter ficado pendentes. A APEF acredita que as alterações que foram feitas foram para melhor, ao nível da divisão dos atos farmacêuticos e atos partilhados, pelo que acho que vieram fomentar a relação com outros profissionais de saúde”, disse, acrescentando a isto a importância da “interdisciplinaridade, que é a realidade nas instituições”.
“No entanto, houve alterações, a nível mais interno de como a Ordem funciona, que ainda não sabemos como acontecerão, porque é um ano de experiência. Vamos ver se funciona, ou não, mas acho que, na globalidade, esta revisão estatutária veio para melhor, e acho que foi com essa intenção que foi promulgada”, referiu ainda.
Sobre os desejos para os próximos 365 dias, Maria Rita Fonseca ressalvou que, “tendo em que conta que vão acontecer eleições legislativas e europeias, seria bom ver a saúde representada, com medidas boas e passíveis de serem implementadas, nomeadamente estratégias para requalificar o sistema nacional de saúde e garantir que o mesmo está apto a funcionar”.
“Eu acho que é de extrema urgência que seja revista a forma como o SNS funciona, garantindo que os profissionais de saúde, não apenas os farmacêuticos, mas todos os que trabalham no SNS, tenham as condições para ajudar a comunidade”, reforçou.
“Posteriormente, a APEF espera que aconteçam coisas na área da retenção de talento e dinamização da rede de farmácias, que acaba por ser uma rede que consegue chegar à comunidade mais do que os hospitais ou os centros de saúde, por exemplo. As farmácias estão em todo o lado e estão mais próximas das pessoas, ou seja, a dinamização e retenção de talento jovem nas farmácias é bastante importante. A nível europeu, a implementação do espaço de dados em saúde é algo que acabará por trazer muitos benefícios aos profissionais de saúde e, posteriormente, como é sempre a nossa missão, à saúde da população”, finalizou.