08 de Agosto de 2016 O mundo está a aquecer. De facto, em 2015 a temperatura da superfície do planeta foi a mais quente de que há registo, desde 1880, e este verão regista já recordes de temperatura (NASA Goddard Institute for Space Studies, 2016; Hansen, 2010). Algumas das consequências do aumento da temperatura média são sobejamente conhecidas: (i) leva ao degelo dos glaciares, provocando um aumento do nível dos oceanos, consequentemente diminuindo a área costeira e à alteração dos níveis de precipitação e inundações, (ii) pode aumentar os riscos de saúde advindos da alteração do comportamento dos vetores de transmissão de doenças, como os mosquitos transmissores dos vírus do dengue, febre amarela ou zika, (iii) origina mudanças nas culturas agrícolas, com implicações no acesso à alimentação, causando subnutrição, pobreza e potenciando conflitos, (iv) e está relacionado com a maior frequência e intensidade de temperaturas extremas. Foquemo-nos neste último ponto. Sabe-se hoje que 75% dos extremos na temperatura, como os dias mais frios no inverno e mais quentes do verão, são atribuíveis ao aquecimento global (Fischer and Knutti, 2015). Ainda, que estas temperaturas extremas representam maior mortalidade. No entanto, esta relação não é igual em todos os países, por exemplo, os do sul da Europa têm taxas de mortalidade mais elevadas nos dias mais frios de inverno; e o excesso de mortalidade é particularmente preocupante em Portugal (Healy, 2003). Uma vez que os países do Sul tendem a ter temperaturas médias mais moderadas, este excesso de mortalidade não seria de esperar. Note-se, no entanto, que são também países com habitação mais pobre, com pouca eficiência energética, comprometendo a proteção contra o frio ou o calor. São ainda países mais afetados pela pobreza e privação e com um maior nível de desigualdade socioeconómica, aumentando a vulnerabilidade das suas populações às temperaturas extremas. Como agravante, o excesso de mortalidade afeta desproporcionalmente a população, estando concentrado nos grupos populacionais mais frágeis, em termos socioeconómicos, de género, idade, ou ainda devido a exclusão social. Por todos estes motivos, Portugal é um dos países Europeus mais exposto a estes extremos de temperaturas, sendo o país com maior variação sazonal na mortalidade entre os países da Europa, no período de 1988 a 1997 (Healy, 2003). Verificou-se também um excesso de mortalidade nas últimas ondas de calor de 1981, 1991, 2003 e 2013. Mais concretamente, esta última onda de calor provocou, nos distritos de Portugal continental, um excesso de óbitos que variou entre os 11 e os 40 óbitos por 100.000 habitantes, respetivamente em Setúbal e na Guarda (Silva et al., 2016). Recentemente, vários autores demonstraram, de forma mais clara do que até aqui, que as alterações ambientais têm responsabilidade do homem (Bindoff et al., 2013). Cabe a este, agora, minimizar o seu impacto sobre o ambiente, nomeadamente, continuar a trabalhar para que o desenvolvimento económico seja sustentável, apostando em energias com menor impacto ambiental, que resultem em menor emissão de gases prejudiciais. Deve-se apostar na comunicação dos malefícios das alterações climáticas, e de como se podem evitar as suas consequências, através da alteração de comportamentos. Importa, ainda manter, a nível central, a vigilância da mortalidade pelas temperaturas extremas através dos sistemas de alerta, como o ÍCARO (Sistema Português de Vigilância e Alerta para Períodos de Calor Extremo), pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, e a respetiva articulação com entidades nacionais e locais. Por fim, uma vez que os extremos de calor têm impacto na saúde das populações, e mais concretamente, em populações mais fragilizadas, torna-se necessário não só reduzir as desigualdades socioeconómicas, os níveis de pobreza e melhorar os determinantes sociais de saúde com o objetivo de proteger as populações mais afetadas, como também apoiar os grupos mais vulneráveis na prevenção da doença aguda sazonal (como a gripe), na gestão da doença crónica e garantir a resposta adequada dos serviços de saúde, de forma a minorar os efeitos da elevada amplitude térmica. Fontes: Joana Alves |