A nova Agência Europeia sobre Drogas (EUDA) promete um reforço da cooperação internacional no combate à criminalidade associada à droga e um sistema de alerta mais rápido e eficaz contra novas ameaças, como os opioides sintéticos.
Inaugurada, esta quarta-feira, em Lisboa, a agência que sucede ao Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA) contou com a presença da comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, que assinalou, citada pela Lusa, que “as drogas estão cada vez mais perigosas” e que o crime organizado ligado à droga “é uma das maiores ameaças” atuais à sociedade.
“Ameaçam a sociedade com corrupção e violência, infiltram-se em negócios normais… Esta ameaça é tão grande quanto a ameaça terrorista”, disse Ylva Johansson, continuando: “Estamos a fazer tudo o que é preciso para criar esta rede mais forte. É absolutamente necessário ir ao topo das organizações. Muitas vezes enfrentamos aqueles que vão nos barcos ou vendem nas ruas, mas temos de seguir o dinheiro”.
A comissária europeia realçou também a importância da cooperação internacional para o combate a este fenómeno, tendo, nesse sentido, sido hoje assinado um protocolo com o Equador para o reforço da troca de informações.
“A América latina é crítica para o nosso futuro. Estamos a investir muito nisso. Por exemplo, vamos assinar o acordo entre EUDA e Equador e estamos a trabalhar com Peru, Bolívia, Brasil e Colômbia. (…) É preciso trabalhar em rede para combater redes criminosas e precisamos de mais parceiros nesta luta”, vincou.
Ylva Johansson abordou ainda a ameaça crescente dos opioides sintéticos no espaço europeu e como a rede de laboratórios forenses e toxicológicos tem um papel decisivo numa deteção e resposta cada vez mais ágil, face às seis mil pessoas que morreram de overdose num ano e à cada vez maior mistura de drogas, que se traduzem em “cocktails potencialmente letais”.
“É difícil dizer qual é a ameaça maior, porque a heroína continua a matar mais e a cocaína é a droga mais traficada, mas os opioides sintéticos são complicados. Há diferentes ameaças e são bastante aditivas. É por isso que é tão importante o sistema de alerta. Por exemplo, vemos como o fentanil atingiu os Estados Unidos e nós não podemos cometer o mesmo erro”, notou.
Já o diretor executivo da EUDA, Alexis Goosdeel, que transita do EMCDDA para a nova agência europeia, destacou as capacidades acrescidas que a EUDA tem para responder ao fenómeno.
“Hoje as drogas podem ter muitas formas e feitios e estão acessíveis em todo o lado. A nossa missão é monitorizar tendências de droga, partilhar conhecimento científico e desenvolver respostas robustas. Acreditamos na capacidade coletiva para enfrentar o desafio e estabelecer parcerias. Todos os alertas e recomendações vão aumentar o impacto, trabalhando hoje para antecipar o amanhã”, declarou.
A secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, representou o Governo no lançamento da EUDA em Lisboa e expressou, também citada pela Lusa, o “renovado compromisso” de Portugal para uma abordagem total ao fenómeno da droga, lembrando o caráter pioneiro na descriminalização do consumo de drogas e que o país “está preparado para ser um parceiro forte” da nova agência.
A EUDA, que continuará a funcionar no Cais do Sodré, em Lisboa, tem como principal objetivo reforçar o grau de preparação da União Europeia em matéria de combate ao consumo e tráfico de droga, sendo o trabalho organizado em diversos eixos: ajudar a UE a antecipar futuros desafios, emitir alertas em tempo real sobre novos riscos, facilitar o intercâmbio de informação e partilhar políticas de intervenção sobre esta realidade.
Tem ainda como mecanismos um Sistema Europeu de Avaliação das Ameaças, que reforçará a forma como a UE se prepara e reage a ameaças emergentes ou potenciais para a saúde e a segurança e uma Rede Europeia de Laboratórios Forenses e Toxicológicos.