O novo bastonário da Ordem os Enfermeiros (OE), Luís Filipe Barreira, defendeu esta terça-feira (19) um acordo político para a saúde, salientado que é urgente definir estratégias e prioridades para o setor.
“Já perdemos décadas com diagnósticos e debates intermináveis. É por isso que hoje faço daqui um apelo a todos os partidos que se vão apresentar às eleições [legislativas] do próximo dia 10 de março: Está na hora de fazer um acordo político para a saúde!”, afirmou, citado pela Lusa.
Luís Filipe Barreira discursava na cerimónia de tomada de posse na Altice Arena, em Lisboa.
Aos presentes, o novo bastonário da OE lembrou que os portugueses “precisam saber (…) que podem contar com um sistema de saúde mais robusto e capaz de responder com eficácia às suas necessidades”.
“No período de pré-campanha eleitoral que se aproxima, a Ordem dos Enfermeiros vai contactar todos os partidos, convidando-os a divulgarem as suas propostas e propondo-lhes que subscrevam um acordo político para a saúde. É uma solução em que todos saímos a ganhar. Os políticos, os profissionais de saúde e os portugueses”, realçou.
Também assinalou que as “reformas não podem estar sempre a ser adiadas”, indicando que “as pessoas exigem soluções”.
“Não podemos perder mais tempo. O modelo assistencial centrado nos hospitais está ultrapassado. Todos os relatórios internacionais apontam para a necessidade de um reforço efetivo dos cuidados de proximidade na comunidade”, afirmou.
Para o novo bastonário da OE, não é aceitável que “um cidadão seja obrigado a estar de madrugada à porta do centro de saúde para garantir uma consulta”.
“Não podemos aceitar quando se espera um dia à porta de uma urgência por desespero, porque não há outra porta que se abra. O país não suporta que 33 serviços de urgência funcionem com constrangimentos, como anunciado esta semana. Não nos podemos conformar com a espera de meses intermináveis por uma cirurgia ou consulta. Nem, tão pouco, se compreende que as pessoas dependentes no domicílio continuem sem acesso a cuidados profissionais adequados”, observou.
Na cerimónia da posse, Luís Filipe Barreira recordou ainda que Portugal “não aguenta perder milhares de enfermeiros para o estrangeiro todos anos” e defendeu que a prescrição por enfermeiros “é um caminho incontornável” e que os centros de parto normal “são uma solução”, alertando para a urgência em apostar num modelo assistencial de cuidados de proximidade à população mais envelhecida.
Sobre o mandato do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, o novo bastonário destacou que o governante “prometeu e cumpriu”.
“Prometeu a criação do Internato de Especialidade para os enfermeiros. E já foi criado o grupo de trabalho técnico que vai criar o respetivo modelo. Há muito que a Ordem se tinha preparado para dar este passo. Já tínhamos muito trabalho feito e, por isso, estamos certos de que esta fase, embora necessária, não vai demorar muito tempo”, considerou, mostrando-se confiante de que “o próximo Governo lhe dará a sequência devida”.
Antes da intervenção de Luís Filipe Barreira, a bastonária cessante, Ana Rita Cavaco, disse que apesar de estar a deixar o cargo, ainda é “capaz de inventar coisas bem prováveis a seguir”, criticando os partidos políticos.
“Gostava de partilhar convosco uma reflexão que tenho feito nos últimos dias. A pensar nas eleições que se avizinham e na ladainha diária que oiço de partidos políticos sobre por que as pessoas não votam. (…) Os partidos vivem fechados sobre si e sobre centenas de bajuladores da cultura do que nasce, que engoliram três sultões e duas rainhas e se acham os melhores do mundo”, referiu.
“Acham-se com direito aos cargos todos sem nunca terem feito nadinha para as pessoas a não ser para si. Pedinchar lugares em listas e empregos. Os governos e os vários setores como a saúde explicam isto lindamente. Nos hospitais, centros de saúde e afins é preciso pôr a mandar. Tios, primos, amigos, porque precisam de um emprego. Sei muito bem o desfile de incompetentes que tive de aturar estes últimos oito anos”, acusou.
Por seu lado, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, realçou a dedicação dos enfermeiros.
“São muitas vezes quem está mais próximo dos doentes. São mulheres e homens de extraordinária coragem. Humanidade e competência. Hoje os portugueses sabem que podem contar com os enfermeiros, e também por isso quero desejar à Ordem [dos Enfermeiros] um novo ciclo com a mesma determinação e defesa da profissão”, sublinhou.
Eleito em 16 de novembro, Luís Filipe Barreira, até aqui vice-presidente da OE, sucede a Ana Rita Cavaco para o mandato 2024/2027 que tem início a 01 de janeiro de 2024.
A antiga bastonária estava impedida de concorrer por limitação de mandatos, somando sete anos de liderança.
Os titulares e membros dos órgãos da ordem são eleitos para mandatos com a duração de quatro anos e não podem assumir mais de dois mandatos consecutivos, segundo os Estatutos da OE, criados em 1998.