Novo tratamento para infeções ósseas cura a patologia e regenera o próprio osso
05 de junho de 2017 Investigadores do Porto estão a desenvolver um tratamento para infeções ósseas graves, com compósitos bioativos e um antibiótico, que regenera o osso ao mesmo tempo que cura a infeção e evita intervenções cirúrgicas consecutivas, recorrentes na terapêutica convencional. Esta solução, orientada para doentes com osteomielite (infeção óssea que ocorre quando bactérias ou fungos invadem um osso), transporta e liberta, de forma controlada, o antibiótico para o local afetado, explicaram à “Lusa” os investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), Susana Sousa e Fernando Jorge Monteiro, líderes do projeto Hecolcap. Após a eliminação da infeção, o biomaterial existente na solução promove o recrutamento, a ligação e a proliferação de células ósseas, resultando num aumento de formação óssea e na redução do tempo de recuperação do paciente, explicaram. O tratamento tradicional da osteomielite, segundo os investigadores, passa, primeiramente, por uma intervenção cirúrgica na qual é feito o desbridamento (remoção do tecido morto) da zona afetada pela infeção. A par desta intervenção, os pacientes são submetidos a um tratamento para eliminar as bactérias que tenham originado a infeção, através da administração de antibióticos, o que, na grande maioria dos casos, obriga a um internamento hospitalar durante períodos prolongados. «A taxa de sucesso desta administração mostra que em 40% dos casos ocorre recorrência da infeção, o que obriga a que este ciclo de administração do antibiótico se prolongue, com danos colaterais importantes e custos muito elevados para os serviços hospitalares», referiram. De seguida, a cavidade criada é preenchida com materiais que ajudam à regeneração do osso, o que cria a necessidade de uma nova intervenção, com novos riscos de infeção associados. De acordo com os responsáveis, embora o medicamento disponível no dispositivo não dispense a primeira intervenção cirúrgica, substitui a administração intravenosa do antibiótico por uma administração única e localizada, com uma concentração mais elevada mas que, no total, corresponde a uma quantidade global menor de fármaco. No tratamento convencional, o antibiótico é disperso por todo o organismo, em quantidades muito elevadas, mas com uma eficácia reduzida visto que só chega ao local afetado uma percentagem relativamente pequena. Com o dispositivo do Hecolcap, apesar de o paciente ter que ser seguido de perto em regime ambulatório, pode voltar para o seu ambiente mais rapidamente, o que, segundo os investigadores, acrescenta uma grande melhoria na sua qualidade de vida. Esta solução permite ainda «libertar camas hospitalares» e diminuir os custos hospitalares associados, dispensando uma segunda intervenção cirúrgica e reduzindo riscos de infeções. Para os clínicos, a possibilidade de verem os seus pacientes a entrar, sucessivamente, em ciclos de recorrência, também é «francamente diminuído». Até ao momento, a equipa já efetuou estudos “in vitro”, com resultados «muito positivos» quanto à eficiência na libertação controlada do antibiótico e «total sucesso» na extinção completa da infeção, num período entre 14 e 21 dias. |