Número de médicos que emigra ou tenciona emigrar aumenta 08 de Julho de 2014 A Unidades de Saúde Familiar – Associação Nacional (USF-AN) afirmou ontem que o número de médicos que emigra ou tenciona emigrar está a aumentar «drasticamente», levando à degradação dos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
Em conferência de imprensa, o presidente da Comissão Organizadora do 7.º Encontro Nacional das USF, João Rodrigues, avançou que, em 2014, emigraram 387 médicos especialistas e que, dos que fazem a especialidade, 65% o tencionam fazer quando a terminarem, noticiou a “Lusa”.
A desmotivação, razões financeiras e falta de oportunidades de trabalho são as três principais razões apontadas pelos médicos para procurar emprego «fora de portas», frisou.
João Rodrigues salientou a «urgência» de o Governo fixar os médicos no país, porque são necessários e «custaram» dinheiro ao erário público.
A título de exemplo, o responsável frisou que os concursos para a colocação de médicos são «lentos e muito burocráticos», fazendo com que eles não esperem um ano para serem colocados numa USF.
«Se é para esperar um ano, é natural que os médicos prefiram sair do país», afiançou.
Além dos médicos, João Rodrigues alertou para o facto de, nos últimos seis anos, 5,7% de enfermeiros, por dia, abandonarem o país.
Esta situação leva, na sua opinião, à degradação dos Cuidados de Saúde Primários e à diminuição da sua prevenção.
As Unidades de Saúde Familiares só terão sucesso e darão resposta aos cidadãos se tiverem recursos humanos e qualificados, sendo fundamental conseguir fixar estes profissionais de saúde, entendeu.
O presidente da direção da USF-AN, Bernardo Vilas Boas, entendeu que os Cuidados de Saúde Primários estão ameaçados, sendo essencial tomar medidas para que se dê origem a novo ciclo neste setor.
A ausência de uma «verdadeira» política e estratégia de recursos humanos, com processos de mobilidade e concursos complexos e morosos, são situações que devem ser «rapidamente» corrigidas.
A restrição ao número de USF é outro dos problemas, tanto que, em 2014, estava prevista a abertura de 50 e só abriram 25 e, este ano, estão estimadas 33.
«É um número insuficiente, além de que demonstra o desinvestimento nas USF», referiu.
Um sistema caótico de informática, a ausência de reconhecimento do enfermeiro de família como especialista em saúde familiar e de uma carreira para os secretários clínicos ou um modelo de contratualização e monitorização estagnado são outras questões a resolver, realçou Bernardo Vilas Boas.
Num documento enviado a todas as forças políticas, a USF-AN frisou a necessidade de criar uma unidade de missão para delinear e conduzir a transformação integrada do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Além disso, defende uma gestão previsional rigorosa do recrutamento e valorização dos recursos humanos, assim como o aumento do número de USF, atingindo 75% da população coberta por este modelo.
Aperfeiçoar as aplicações informáticas das USF, apostar no desenvolvimento da governação clínica e redimensionar os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) são outras das medidas consideradas «essenciais» para que as USF tenham «sucesso». |