Nuno Flora: Empresas na “zona vermelha” com elevado aumento de custos 767

Não é a primeira vez que a Associação dos Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA) pede ao Governo “medidas urgentes” no sentido de combater e minimizar o impacto do aumento dos custos energéticos no que compreende o processo da distribuição de medicamentos.

Em comunicado, a ADIFA relembrou que os “impactos económico-financeiros que resultam destes aumentos estão a agravar-se em função da evolução do atual contexto de crise energética”. Ao Netfarma, o presidente da associação, Nuno Flora, abordou a situação, explicando que este novo “alerta” é, mesmo assim, “atempado”.

“Já no final do primeiro trimestre, em março, tínhamos dado nota das dificuldades crescentes que estávamos a ter com o aumento dos custos energéticos. É preciso dar nota de uma situação: isto já se vem a sentir desde o ano passado. No último trimestre de 2021, as empresas já sentiam o aumento, em particular da eletricidade, não tanto dos combustíveis. Também, mas não tanto”, explicou.

Segundo o responsável, o “início de 2022 trouxe um agravar de situação porque se manteve o aumento”.

De acordo com “dados das empresas”, é “estimado um aumento de 20% em custos energéticos para o setor” que, recorda, tem na armazenagem (“custo principal é a eletricidade”) e no transporte (“muito dependente dos combustíveis fosseis”) os principais pontos.

Assim, refere Nuno Flora, as empresas estão a entrar na “zona vermelha”. “Daí o alerta”, explicada. E continua: “Não é um problema de abastecimento, não é disso que se trata. Aliás, o setor da distribuição sempre deu boas provas. Durante o covid não houve, nem temos, um problema de abastecimento, tirando obviamente as roturas ou as faltas pontuais do mercado”.

“A situação está a tornar-se cada vez mais difícil, porque temos um serviço já de si bastante eficiente. Passámos pela troika pelo covid, e temos operações muito eficientes. Qualquer disrupção, neste caso em termos energéticos, tem de ser totalmente acomodadas pelos operadores”, acrescentou.

Relembrando que é o Estado que fixa preço e margem, pelo que “ao contrário de outros setores, que normalmente repercutem a situação no consumidor final”, o setor da distribuição farmacêutica não pode tratar o atual contexto dessa forma.

O que agrava ainda mais a situação, de acordo com o presidente da ADIFA, é que os “custos energéticos significam cerca de 30% dos custos das empresas”. “As operações têm de ajustar-se a estes custos, pelo risco das empresas, do ponto de vista da sua sustentabilidade económica, ficarem menos viáveis. Estamos a entrar no vermelho e estimamos que a manter-se esta situação até ao final do ano, será pelo menos um aumento de custos energéticos na ordem dos três milhões de euros. O que é brutal num setor que vive também com margens relativamente reduzidas”, garante.

As empresas têm assim que “pensar e reajustar as suas operações, nomeadamente a nível de serviço, que é de excelência em Portugal”. Por isso, a manter-se a situação pode ter de haver um ajuste e “diminuição do nível de serviço disponibilizado pelas empresas”.

“A agravar-se a situação – e por isso colocámos o comunicado -, podemos ter um risco real face ao normal abastecimento. Não estou a dizer que não há abastecimento, mas face ao normal abastecimento do mercado… não queremos chegar aí. Estamos a alertar os responsáveis governamentais e também de certa forma os partidos políticos e os grupos parlamentares, para terem em atenção as especificidades deste setor, nomeadamente em termos de preços, e também em termos de custos, porque estamos muito dependentes da energia e estamos a acomodá-los todos”, frisou.

Sem “boas perspetivas” e achando que a “a continuar assim surge uma situação muito complexa”, que no fundo “coloca em causa o normal abastecimento”, Nuno Flora reforça algumas medidas que podiam ser adotadas, como o acesso a gasóleo profissional ou mudanças na questão do IUC e do ISP. “Não são novas medidas, nem isenções específicas para o setor. Trata-se de alargar aquilo que outros setores têm”, garante.

E voltando aos tais três milhões de euros, o presidente da ADIFA é claro: “Não vemos um horizonte que diga que a situação é temporária. Vemos a manter-se e a agravar-se”.